Um pouco antes do parto...
Aí surgiu minha primeira dúvida, continuo
com meu plano de saúde ou contrato outro? Por conta do meu trabalho
como advogada sabia bem os problemas que podemos enfrentar quando
precisamos utilizar os serviços de saúde contratados através de um
plano de saúde, além de saber da existência de carência de 300
dias para a cobertura do parto.
Marquei uma consulta com a ginecologista,
da rede credenciada do meu então plano de saúde, que para aquelas
consultas de rotina me atendia até que muito bem. Disse a ela que ia
começar a tentar engravidar e ela me pediu alguns exames (ultrassom
e hemograma). Antes mesmo de engravidar ou de começar a conversar
com ela sobre questões relacionadas ao parto, ao tentar marcar uma
consulta de retorno, descobri pela secretária que esta médica não
atendia no consultório às terças-feiras pois “era dia de parto”.
Heim?! Com essa informação parei e pensei: ou todas as pacientes
dela têm uma ligação cósmica e entram em trabalho de parto juntas
às terças-feiras, ou ela marca todas as cesárias neste dia da
semana. Como achei que a segunda hipótese era mais plausível,
resolvi mudar de médica, pois já sabia que pretendia ter um parto
normal.
Antes mesmo de engravidar eu já tinha
plena consciência de que o ideal é que o parto seja normal e que a
cesária, como intervenção cirúrgica, só deve ocorrer quando for
realmente necessária. Mas eu também já sabia que o nosso país,
infelizmente tem uma das maiores taxas de cesárias do mundo e que
não é fácil encontrar um médico que realmente esteja disposto a
fazer um parto normal na rede privada.
Uma amiga muito querida já tinha uma
filhinha e tinha tido um parto natural, humanizado, na água,
lindo!!! Conversávamos bastante sobre o assunto e, graças a ela, eu
já tinha bastante informação antes mesmo de engravidar. E foi ela
quem me indicou uma médica incrível, que fez seu parto.
Marquei uma consulta com esta médica e me
encantei com ela. Conversamos bastante, disse que gostaria de ter um
parto natural se possível, mas que não era contra anestesia nem
cesárea, desde que fossem intervenções necessárias, e ela me
explicou que esta era exatamente sua forma de trabalho. Ela falou
sobre o atendimento humanizado, sobre seu percentual de partos
normais e de cesárias, sobre as recomendações da Organização
Mundial da Saúde.
Pronto, eu já tinha escolhido a médica
que ia me acompanhar na minha futura gestação e no meu parto, uma
profissional em quem eu podia confiar, que não ia me enganar e me
levar para uma cesárea desnecessária. Encantei-me também com o
lugar onde esta médica atendia: a Casa Moara. Um lugar acolhedor,
que congrega vários profissionais, todos visando o mesmo objetivo.
Passei a avaliar as maternidades que eram
credenciadas do meu plano de saúde e constatei que várias haviam
sido descredenciadas, dentre elas aquela em que eu gostaria que
acontecesse o meu parto, a Maternidade São Luiz.
Decidi então mudar de plano de saúde e
entrar como beneficiária do plano de saúde empresarial do
escritório onde meu marido trabalha, que tinha uma ótima rede
credenciada de maternidades e tinha a opção de ser atendida por
profissionais de saúde de fora da rede credenciada e obter reembolso
dos valores das consultas.
Parei de tomar anticoncepcional em setembro
de 2010. Ao contrário de muitos casais que conhecemos, eu e meu
marido não fizemos nenhuma “força-tarefa” para engravidar,
apenas seguimos com nossa vida normalmente. E em abril de 2011 nós
engravidamos!
Resolvi então conversar com meu marido
sobre o tipo de parto e de atendimento que eu gostaria. Ao falar do
parto natural, vi uma expressão um pouco surpresa/assustada em seu
rosto. Meu marido estava acostumado a ver e acompanhar mulheres que
marcam cesárias para ter seus filhos, muito diferente do que eu
propunha. Sugeri que ele pensasse sobre o assunto e levasse suas
dúvidas para serem tiradas com a médica que havia escolhido para
nos acompanhar nessa jornada.
Na primeira consulta pré-natal, eu tinha
poucas dúvidas, mas meu marido começou a bombardear a médica de
perguntas, confesso que fiquei um pouco sem graça. Mas ele tinha
todo o direito de perguntar o que quisesse e precisasse para se
sentir seguro quanto ao acompanhamento do crescimento e do nascimento
da sua filha. Até sobre episiotomia ele perguntou! E a médica
respondeu a todas os seus questionamentos de forma tranquila e
fundamentada. Saímos da consulta, perguntei se ele tinha gostado e
ele me disse que sim e ressaltou: “não dá pra não concordar com
ela”.
E, seguindo aquela máxima de que em time
que está ganhando não se mexe, eu e meu marido escolhemos
exatamente a mesma equipe que acompanhou o parto daquela minha grande
amiga, a mesma enfermeira obstétrica, a mesma doula e o mesmo
pediatra, além de claro a mesma médica. Mas não foi só por isso,
conhecemos antes todos eles, que também nos encantaram com seu
profissionalismo, sua ética e sua tranquilidade.
Eu e meu marido estávamos certos e
confiantes de que havíamos escolhido a melhor equipe possível para
nos acompanhar na gravidez e no parto. E o parto natural nunca foi
nosso objetivo. Nosso objetivo sempre foi o melhor nascimento para a
nossa filha e, por isso, estávamos tranquilos se fosse necessário o
uso de alguma intervenção, até mesmo uma cesárea.
Durante a gravidez, quando falávamos sobre
parto humanizado e que buscávamos, se possível, ter um parto
natural, vimos algumas pessoas com aquela cara de “vocês são
loucos?” e “para quê isso?”, mas também nos deparamos com
diversas pessoas que nos apoiaram ou se interessaram em saber mais
sobre o que seria o atendimento humanizado que buscávamos, o que
muito me alegrou.
Busquei me preparar, mental e fisicamente,
o melhor possível para ter uma gravidez saudável. E a Casa Moara
foi o local mais visitado durante a minha gravidez. Comecei a
frequentar os encontros de gestantes com 9 semanas de gestação, que
foram ótimos para trocar experiências e obter informações sobre a
gestação, o parto e o pós parto. Lá também fiz yoga para
gestantes, onde conheci minha querida professora com quem me
identifiquei de cara e já decidi que ela seria nossa doula. Fiz
ainda acompanhamento com a nutricionista e, mais para o final da
gestação, com a fisioterapeuta para fortalecimento do períneo. A
única atividade que fiz fora de lá foi a hidroginástica.
No meu primeiro Dia das Mães, com minha
filha ainda na barriga, aquela minha querida amiga me presenteou com
um livro delicioso: “Parto com amor”. E ainda me emprestou outros
livros, que devorei durante a gestação: “Quando o corpo
consente”, “Parto ativo”, “A bíblia da gravidez”. E um
livro bem divertido, que recomendo para descontrair: “Onde vende o
manual”.
Eu e meu marido fizemos também nosso plano
de parto, para organizar nossas ideias e definir nossas preferências
em relação ao nascimento da nossa filha. Colocamos no papel o que
pretendíamos para o trabalho de parto, para o parto, para o pós
parto, para os cuidados com nossa bebê e caso fosse necessária a
cesárea.
Durante a gravidez, tive dois pequenos
sustos. O primeiro foi descobrir que estava com diabetes gestacional,
o que me deixou muito triste. Mas nossa médica me tranquilizou e
bastou uma dieta, auxiliada pela nutricionista, mais restritiva de
açúcar e carboidrato para que tudo corresse bem e eu conseguisse
manter minha glicemia controladíssima.
Outro susto foi no finalzinho da gestação,
que minha pressão subiu um pouquinho e tive um pouco de perda de
proteína na urina, que seria um indicativo de pré-eclâmpsia. Nossa
médica me tranquilizou novamente, mas pediu que medíssemos a
pressão todos os dias e avisássemos se alguma estivesse alta.
Compramos um medidor de pressão e passei a medi-la 3 vezes ao dia, e
minha pressão voltou a normalizar sem maiores problemas.
O trabalho de parto!
No dia da minha DPP, 13/12/2011, uma 3ª
feira, acordei mais tarde, descansei um pouco, almocei, fui para a
aula de yoga, voltei para casa e fiz mais alguns exercícios de
cócoras que a professora tinha me passado. À tarde fui caminhar com
a minha amiga (aquela anja que me apresentou à minha médica) pelo
bairro. Cheguei em casa e tomei um delicioso e relaxante banho de
banheira. Meu marido chegou, nós jantamos, conversamos e fomos
dormir lá pelas 22h. Eu dormi logo que deitamos e meu marido
sorrateiramente trocou a televisão de canal e ficou assistindo a um
dos filmes violentos que ele adora e que estavam proibidos durante a
minha gestação.
Às 23:30h, acordei com uma sensação
estranha... Percebi que tinha molhado um pouco a cama. Avisei meu
marido e ficamos na dúvida: será que rompeu a bolsa ou fiz xixi na
cama sem perceber? Levantei e saiu mais um pouco de líquido, mas
como foi pouco ainda fiquei na dúvida. Tomei um banho, troquei de
roupa e, como o líquido estava transparente, decidimos voltar a
dormir.
Mas é claro que não conseguimos dormir,
pois logo em seguida comecei a sentir as primeiras contrações, bem
leves, e até às 00:30h foram umas cinco. À1h ligamos para a nossa
doula, que pediu para contarmos as contrações, os intervalos e
duração por aproximadamente 1 hora e ligar para ela novamente para
relatar como foi.
Continuamos monitorando, e da 1h às 2h,
tive 14 contrações, a primeira com duração de 46 segundos e a
última com duração de 70 segundos. Ligamos para a nossa doula às
2:20h e relatamos como andava o trabalho de parto. Ela achou melhor
vir pra nossa casa para acompanhar o TP mais de perto.
Por volta das 3h ela chegou. O porteiro do
nosso condomínio não queria deixá-la entrar nem interfonar em casa
por conta do horário e ainda disse a ela: “isso é hora de visitar
os outros?” (doula tem que passar por cada uma...). Felizmente ela
usou seu poder de argumentação, ele interfonou em casa e meu marido
pediu “peloamordedeus” pra ela entrar.
A partir da sua chegada, as contrações
passaram a ser monitoradas pelo “master-blaster”, como diria meu
marido, programa do celular da nossa doula (beeem mais fácil do que
ficar anotando manualmente as contrações).
Durante meu TP, fiquei a maior parte do
tempo sentada na bola, controlando a respiração como eu havia
aprendido nas aulas de yoga e a nossa doula massageava minha lombar
durante as contrações com suas mãos mágicas. Não sentia dores na
barriga, mas sim na lombar. Também fui ao banheiro diversas vezes e
meu intestino ficou mais que vazio, a natureza é sábia...
A dor foi aumentando progressivamente. Mas
até às 3:30h eu ainda ria das piadas contadas pelo meu marido e
conversava normalmente nos intervalos das contrações. Lembro
perfeitamente de nós três conversando no quarto, com a porta da
varanda aberta. Mas a partir deste momento, as dores começaram a se
intensificar, e meu bem humor foi diminuindo na mesma medida. Nesse
momento lembrei de uma dedicatória que uma das minhas colegas de
yoga escreveu no meu cartão de despedida da barriga, que dizia pra
eu me lembrar, quando as dores fossem ficando piores, que era um
sinal que minha filha estava chegando. Mentalizei isso até o final
do meu TP.
Por volta das 4h, as contrações estavam
bem doloridas e cada vez mais próximas, e nossa doula achou melhor
já nos prepararmos e rumarmos para a maternidade, e já avisou toda
a equipe que estávamos a caminho.
Nossa doula foi em seu carro. Meu marido
foi dirigindo nosso carro, comigo no banco de trás, agachada e
abraçada na bola. E essa foi a pior parte do meu TP, pois as dores
estavam bem fortes, eu estava sem a santa massagem da doula na minha
lombar, e as ruas esburacadas de São Paulo não ajudaram em nada.
Foram os 10 minutos mais longos da minha vida.
Quando chegamos na maternidade, às 5:15h,
nossa enfermeira obstétrica já estava nos aguardando na entrada,
sua tranquilidade aliada à da nossa doula foram essenciais naquele
momento.
A admissão até que foi rápida, eu já
havia deixado todas as informações necessárias anotadas numa folha
de papel junto com os meus documentos, para o meu marido não se
atrapalhar.
Nesse momento tive uma contração bem
dolorida, que até escureceu minha vista. Lembro de olhar para nossa
doula e falar que a dor tinha sido bem forte, e mais uma vez ela me
tranquilizou.
Fomos para a sala ao lado da admissão para
fazer o cardiotoco e o tão temido exame de toque, que me disseram
que doía bastante. O cardiotoco mostrou que nossa bebê estava bem,
mas eu não tinha dúvidas disso. A Beatriz mexeu bastante durante a
gravidez inteira, inclusive durante os intervalos das contrações, o
que me deixava tranquila.
O exame de toque foi feito pela nossa
enfermeira obstétrica, que foi tão delicada que eu juro não ter
sentido dor nenhuma. Após o toque, ela nos olhou com um sorrisinho
no rosto e contou que a minha dilatação já estava de 8 para 9, mas
que a bebê ainda estava alta. Senti um alívio enorme, pois uma das
coisas que mais temia era chegar à maternidade e ter que voltar pra
casa, e também porque, apesar de a dor estar forte, eu sabia que
estava chegando ao final.
Fomos para a delivery. Nossa enfermeira
obstétrica foi na frente para encher a banheira. Eu não quis ir de
cadeira de roda, preferi ir andando. Fomos caminhando até o elevador
eu, meu marido, nossa doula e a enfermeira da maternidade. Ao chegar
em frente ao centro obstétrico, a enfermeira não deixou nossa doula
ir comigo para a delivery porque ela e meu marido tinham que se
paramentar para entrar (mais um dos protocolos discutíveis das
maternidades...). Então eles foram se paramentar e eu fui com a
enfermeira da maternidade para delivery, caminhando e fincando minhas
unhas nela a cada contração (acho que ela se arrependeu um pouco de
me acompanhar...).
Cheguei na delivery e fui direto pra
banheira. Mas, como ela não estava cheia ainda, sentei um pouco no
vaso para aguardar e logo comecei a sentir a tal “vontade de fazer
força”. Vontade nada, meu corpo começou a fazer força sozinho! E
eu, que já estava na partolândia essa hora, me lembro de ter um
momento de lucidez e pensar: “espero que essa banheira encha logo,
minha filha não vai nascer no vaso!”.
Meu marido e a doula chegaram. A banheira
encheu e eu entrei rapidamente nela. Nossa médica também chegou em
seguida. E veio mais vontade de fazer força. Agora eu não sentia
mais aquela dor forte na lombar, era uma sensação diferente, parece
que eu sentia minha filha descendo... Meu marido ia entrar na
banheira comigo, mas acabou não dando tempo... Ele estava atrás de
mim, segurando meus braços e nós ouvimos alguém falando: “cabeça”.
Não consegui colocar a mão para senti-la, não conseguia largar meu
marido.
Lembro também de sentir meu períneo
ardendo bastante, o tal círculo de fogo. Logo em seguida a cabecinha
da Beatriz saiu. Mais uma força e saiu o resto do seu corpinho. Ela
“deu uma braçadas”, saiu da água e foi trazida para o meu
peito, linda, roxinha, tranquila, com as unhas da mão compridas! Às
6:02h nasceu nossa princesinha Beatriz!
O pediatra que escolhemos para acompanhar o
parto chegou logo que a Beatriz nasceu, foi tudo tão rápido que
quase ele não chega a tempo!
Ficamos lá, muito emocionados, nos
namorando, eu, meu marido e nossa pequena, que logo foi ficando
rosinha com a água morna sendo jogada no seu corpinho... Foi o
momento mais mágico e incrível de toda a minha vida...
Logo que o cordão umbilical parou de
pulsar, meu marido o cortou. Pegaram a Beatriz para que eu pudesse
sair da banheira. Eu estava tão emocionada e cansada que minhas
pernas tremiam e precisei de ajuda para sair da banheira e ir para a
cama.
Em seguida o pediatra trouxe a Beatriz e a
colocou para mamar, onde ela ficou por quase uma hora. A minha
pequena assim me ajudou a expelir a placenta, por volta de 30 minutos
após o parto.
A nossa médica veio então avaliar meu
períneo. Eu confesso que ardeu tanto quando a cabecinha ds Beatriz
passou que achei que tivesse tido alguma laceração. Mas fiquei
muito feliz ao saber que meu períneo estava íntegro, sem nenhuma
laceração! Bendita fisioterapia perineal, bendito Epi-no!
A tranquilidade de todos da equipe que nos
acompanhou no nosso parto foi essencial para que mantivéssemos nossa
calma e nossa serenidade e tivéssemos a certeza de que tudo estava e
terminaria bem. E isso é impagável! Ou melhor, pagável e vale cada
centavo!!!
Agradeço
à minha amiga Daniele Moraes, que esteve ao meu lado antes, durante
e depois da gravidez e me apresentou à equipe que acompanhou nosso
parto. E, coisas da vida, assim como eu estive com ela no dia do seu
TP, ela também estava comigo no dia do meu!
Agradeço
a toda equipe maravilhosa que nos acompanhou na gravidez e no parto
da nossa filha: à nossa médica Dra. Andrea Campos, à nossa
enfermeira obstétrica Marcia Koiffman, à nossa doula Katia Barga,
ao nosso pediatra Dr. Douglas Gomes, à fisioterapeuta Miriam Zaneti,
à nutricionista Amanda Buonavoglia.
Agradeço
aos meus pais e minha irmã, pelo apoio, respeito e compreensão que
me deram durante toda a gestação.
Agradeço
ao meu marido Cristiano, que topou encarar esta aventura junto
comigo, me apoiou e participou ativamente da gestação e do parto da
nossa filha querida.
E
agradeço à Beatriz, que me escolheu para ser sua mãe e me enche de
alegria toda vez que me olha com seus lindos olhos azuis.
Relato do Pai, Cris
O Nosso Parto
Desde que fiquei sabendo que seria pai, passei a imaginar o momento do nascimento de nossa filha e como seria minha reação ao recebê-la fora da barriga de minha esposa, Juliana.
E pelos relatos que me foram contados ao longo da vida sobre a emoção indescritível de vivenciar o momento do parto, nunca tive dúvida de que estaria presente no nascimento de nossa amada Beatriz.
Entretanto, seja pelas experiências das pessoas que fazem parte da minha família e círculo de amigos, ou mesmo pela cultura da cesárea quase que imposta às mães no Brasil, até ser apresentado à realidade consciente, segura e responsável do parto natural, nunca havia imaginado que eu, simples pai, poderia exercer outro papel além de mero expectador no parto de nossa filha.
Não estou defendendo os benefícios do parto natural. É que, ao decidir por esta modalidade de parto, enfrentamos um sem número de caras feias e narizes torcidos de supostos experts da medicina obstétrica, que praticamente blasfemavam contra tudo aquilo que fugisse do roteiro da cesárea, de preferência agendada.
Não culpo nenhum desses críticos, mesmo porque muitos deles são entes queridos que certamente só queriam e querem o nosso bem. Aliás, eu mesmo era um defensor fervoroso da cesárea (apesar de sem qualquer conhecimento).
As repreensões que recebemos ao contar que pretendíamos ter um parto natural fizeram com que buscássemos o maior número de informações possíveis não só sobre o momento e forma do nascimento de nosso bebê, como também sobre como nos preparar para o parto.
Foi então que aprendi que eu já era pai, mesmo muito antes do nascimento de nossa filha. E que além de amá-la muito, eu já podia (e devia) ajudá-la a se desenvolver e a se preparar para sair do forninho, apoiando incondicionalmente e dando segurança à sua mãe.
Apesar de toda nossa preparação para o parto e por mais que tentássemos nos informar sobre a dinâmica do parto natural, tive que me conformar que cada parto é um parto, sem roteiro ou regras estanques. Simples assim, como quer a mãe Natureza.
Por isso, entendi que a melhor forma de eu ajudar no momento do nascimento de nossa filha era, além de tomar as providências práticas que estavam ao nosso alcance (escolha da equipe e hospital para o parto, etc.), fazer com que minha esposa tivesse certeza de que eu daria todo o apoio que ela precisasse antes, durante e depois do trabalho de parto, quaisquer que fossem as necessidades.
Outra providência prática que tomei foi não viajar mais a trabalho nas semanas que antecederam a data provável do parto, pois nossa filha não podia correr o risco de querer nascer e seu pai estar do outro lado do país. Adotadas essas cautelas, estávamos prontos, aguardando para, de um dia para o outro, segurar nossa pequenina nos braços.
Na quadragésima semana e primeiro dia (só quem engravidou tem essa tecnologia de contagem do período gestacional), Juliana suspeitou que tivesse chegado a hora, a boa hora. De fato, tinha início o nosso trabalho de parto.
Daí em diante começou, para mim, um processo mágico no final do qual teríamos nos braços nossa obra prima: a pequena Beatriz. Mas como cada parto é único, sem roteiro, não sabia o que viria pela frente.
Meia-noite: “Isto aqui é xixi ou um pouco de líquido amniótico”? Não soubemos ao certo, mas como estava clarinho, decidimos tentar dormir. Mas como dormir se nossa menininha, depois de 40 semanas e 1 dia, podia estar dando os primeiros sinais de que já estava pronta para sair do forninho?
Não, não. Definitivamente, não conseguimos dormir mais. Mesmo porque, minutos depois, Juliana começou a sentir as tão famosas contrações. Contrações levinhas, levinhas, daquelas que o papai nem consegue sentir com ouvidos, rosto ou mãos.
Mas logo essas leves contrações ganharam força e, para nossa surpresa, intensidade e alguma regularidade. Mas a dilatação de 0 a 10 dedos não levaria, em tese, 10 horas (1 dedo/hora)? Em tese, papai, em tese. Esqueceu-se que cada parto é único?
Como as contrações, à 1h e 30min da madrugada, já estavam durando de 40 a 70 segundos, com intervalos de 2 a 5 minutos, decidimos ligar e acordar nossa doula (espécie de mulher anjo que, além de tornar mais suportáveis as dores do parto, transmite calma e segurança ao casal).
Nossa doula pediu que contássemos as contrações por mais uma hora e, como as contrações passaram a vir ainda mais regulares neste período, nossa mulher anjo voou para nossa casa às 2hs e 30min da madrugada.
Quando ela chegou em casa continuamos conversando descontraidamente. Também ajudamos a mamãe (em pé, sentada e na bola de ioga) durante as contrações segurando-a, massageando-a e não a deixando esquecer-se das respirações ensinadas nas aulas de ioga.
Na medida em que as contrações estavam cada vez mais ritmadas (agora já contadas no máster bláster programa de celular de nossa doula), perguntei, por volta das 3hs e 30min da madrugada, se já não estava na hora de irmos para o hospital. Nossa doula, com a tranquilidade que lhe é característica, disse que Juliana ainda estava muito descontraída, e que só quando ela parasse de rir de minhas piadas entre as contrações é que estaria na hora de sairmos para o hospital.
Não demorou muito e realmente Juliana começou a se incomodar mais com as dores durante as contrações e a não querer mais papo entre elas.
Por volta das 4hs e 30min da madrugada, quando Juliana já estava quase incomunicável (ou se comunicando por grunhidos, olhares e fortes suspiros – o nome técnico científico desse estágio é “partolândia”), nossa doula me perguntou se já estava tudo arrumado (malas no carro) para rumarmos ao hospital.
Senti um misto de alívio e ansiedade, pois ao mesmo tempo em que podíamos estar perto do final do trabalho de parto, ainda não sabíamos com quantos dedos de dilatação Juliana estava e, assim, o quão mais o trabalho de parto poderia durar.
Ao sair de casa nossa doula entrou em contato com todo o resto de nossa equipe (médica obstétrica, enfermeira e pediatra) e eu fui com Juliana no nosso carro com ela no banco de trás esmagando a bola de ioga durante as contrações.
Percebi que no caminho até a maternidade, que às 5hs da manhã durou apenas incomuns 10 minutos, Juliana sentiu as contrações mais intensas (e dolorosas). Ao chegar no hospital, nossa enfermeira obstétrica já estava nos esperando e, finalmente, teríamos a exata ideia do estágio do trabalho de parto.
Após o cardiotoco (mamãe e bebê ok) nossa enfermeira nos olhou com um sorriso meio maroto e disse: 8 para 9 dedos. Caramba, mas não é com 10 que os bebês nascem? Isso mesmo, para nossa grata surpresa, Bia já estava em vias de deixar o forninho.
Percorremos intermináveis 30 metros entre a sala de admissão e a sala de parto, entre passos contidos, abraços apertados e gemidos em 3 ou 4 contrações muito intensas. Não pude entrar direto na sala de parto, pois a enfermeira do hospital disse que eu teria que “me paramentar”. Deixei Juliana com as enfermeiras (a nossa e a do hospital) e fui correndo “me paramentar”.
Quando voltei para a sala de parto, Juliana estava prestes a entrar na banheira, com contrações muito intensas e já no último estágio da “partolândia”. Foi só o tempo de terminar de encher a banheira para colocarmos Juliana dentro da água morna (para amenizar a dor).
A ideia inicial era que eu também entrasse na banheira e servisse de apoio para as costas de Juliana, mas as contrações vieram tão rapidamente que a fiquei segurando do lado de fora da banheira.
Duas ou três contrações depois ouço: “cabeça”. Como eu estava atrás de Juliana, nossa médica disse para eu colocar a mão na água e sentir o cabelinho. Só que eu estava tão preocupado em acalmar e dar suporte à Juliana, que nem mesmo consegui deixar de segurá-la. Mais uma contração e ouço: “agora está quase no fim, só falta passar o ombrinho”.
Olho, vejo nossa bebezinha debaixo d’água e fico imensamente feliz por Juliana ter conseguido manter a calma e ter tido, até ali, um trabalho de parto maravilhoso.
Segundos depois, após a última contração expulsiva, a médica pega nossa bebezinha e imediatamente a coloca, roxinha, no colo de Juliana, só com a cabecinha fora d’água.
Tudo o que eu dissesse aqui não seria capaz de revelar a emoção e a magia daquele momento, no qual tive a certeza de que nasci com um propósito nesta vida: ser pai daquela princesinha.
Ela já nasceu linda, ficando rosinha a cada copinho de água morna da banheira que despejávamos carinhosamente em seu corpinho. Cortei o cordão umbilical e, em seguida, já fora da banheira, nosso pequeno milagre já estava dando a sua primeira mamada.
Nosso parto foi lindo e me fez sentir emoções até então desconhecidas e indescritíveis. Nossa bebezinha, recebida de forma tão espontânea, fez com que eu percebesse de forma presente e ativa o milagre de seu nascimento.
Agradeço imensamente à Casa Moara, por ter nos esclarecido de forma consciente e segura as possíveis formas de se trazer um bebê ao mundo, à nossa equipe de parto (Andréia, Douglas, Kátia e Márcia) e principalmente à Juliana por ser minha esposa e mãe de nossa filha e à Bia, que me escolheu para ser seu pai.
Espero, de coração, que os futuros papais e mamães possam vivenciar experiência semelhante.
Boa hora.