Relato de Parto: Fernanda e Gael

 Eu tinha acabado de passar na faculdade, estava fazendo dança na UNICAMP a apenas alguns meses, eu jamais desconfiava que estava grávida, pois além de ovário policístico eu não menstruava a meio ano. Foi quando depois de engordar uns 8 quilos em dois meses, meus seios doerem como nunca e estarem muito inchados, que o meu namorado me lança: -Você não acha que está grávida? E pela primeira vez na vida (eu sempre muito paranóica) retruquei: - Não!
Pois é, vida realmente nos prega peças... foi um choque ao ver o resultado. Disse: -Julio, não é possível, acho q esse teste de farmácia está estragado... deu positivo! E o resultado apareceu em muito pouco tempo, o teste pede pra esperar 5 min, e essa faixinha vermelha aqui apareceu em segundos!!!! Tem algo errado!!
Depois de confirmar com um teste no laboratório (estava na sexta ou sétima semana de gravidez) lá fui eu contar para os meus pais e para a mãe do meu namorado... já sabe néh?! Aquela coisa... os dois muito jovens, nem casados somos, eu nem emprego tinha, ele trabalhava a noite num bar, eu tinha acabado de entrar na faculdade, ele nem faculdade fazia... O começo realmente foi um pouco conturbado, eu tive uma depressãozinha no começo, consegui engordar 15 quilos em 3 meses, saí da faculdade que eu tanto sonhei, voltei para São Paulo pra ficar junto da minha família e do pai do meu filho... meu namorado largou do emprego que tinha no bar e foi trabalhar em escritório, se inscreveu no cursinho para prestar vestibular... as nossas vidas realmente mudaram! No começo foi mais difícil, mas o tempo foi passando e tudo foi ficando azul! No fim consegui curtir bem a minha gravidez.

Devo confessar que eu sempre tive medo do parto... na verdade, quando fiquei sabendo que estava grávida eu tive pesadelos com o parto! Nossa, morria de medo da dor, não sabia se queria parto normal, acho que na época até pensava em fazer cesárea, não lembro ao certo... sei que o momento do parto era algo que me assombrava um pouco.

Minha psicóloga me indicou um curso de preparação pra parto no GAMA, ele não disse sobre o que se tratava, mas eu fiz questão de ir lá já que esse era um momento tão temido por mim... e lá fomos nós, eu e o Julio. Saí de lá tento a certeza que não deveria fazer cesárea e que parto NATURAL era a melhor opção pra mim e para o meu bebê, que eu já tanto amava e sonhava... mas meu, e a coragem?! Duvidava muito que ia conseguir fazer um parto daquela maneira... SEM ANESTESIA?! E as dores?! JESUS CRISTO, será que eu agüento????
A AC me passou uma lista de médicos, fui em uma primeiramente mas num rolou, e em seguida fui no Jorge... ai ai, o JK. Ele me assustou na primeira consulta! Falou coisas (realidades) de um jeito tão direto e reto que eu fiquei com medo... hahaha, eu acostumada com aquele perfil de médico que só fala o que a gente quer ouvir, fui parar bem em um que só fala verdades! Mas foi ótimo, tudo o que falou foi essencial para eu ter certeza de que era aquilo mesmo que queria... Ah, e eu fui parar no JK quando já estava pra lá de 32 semanas.
O apoio para esse tipo de parto aqui em casa (no começo) foi ZERO! As pessoas só me questionavam, perguntava que benefícios de fato isso iria me trazer, falavam que eu era maluca e tudo mais... mas eu e o Julio acreditávamos muito naquilo e seguimos firme com a nossa opção! Ele sempre muito prestativo e sempre me apoiando... um doce de namorado!
Enfim, segui em frente e conheci a querida Kátia, minha doulinha e professora de yoga, e tudo foi indo tranquilamente, o tempo foi passando e tudo foi sendo mais aceito!
Eu devia estar com 38 semanas quando comecei a sentir as benditas Braxton... era uma cólica que aparecia em mim todas as noites! E muitas vezes durante o dia também... acabei me acostumando com elas... tornaram-se parte da minha rotina. E eu fiquei super ativa até o dia do Gaelzinho nascer!
Foi num sábado que tudo começou, já estava de 41 semanas quase indo pra 42, achou que era melhor chamar a Kátia, e eu percebendo que a coisa estava apertando diss . Liguei pra ela, ela disse que terminaria de comer e iria me encontrar. Nesse meio tempo tomei mais uma ducha e fiquei caminhando pela casa. Detalhe, chegou uma hora que eu num conseguia mais sentar, durante todo o dia as contrações eram mais doloridas enquanto eu estava sentada, mas mesmo assim eu conseguia ficar sentada pq elas não doíam tanto ainda. Mas chegou um momento que ficou impossível (acho que foi algum tempinho antes de eu charmar a Kátia que eu percebi isso). Então ficava andando de um lado para o outro que nem uma barata tonta. Resolvi ir numa peça de teatro com umas amigas. No fim da peça lá vieram as habituais cólicas, mais ou menos umas 11 da noite... mas ok, super normal, nem desconfiei de nada, vieram como sempre e achei que elas fossem embora como sempre. Fui pra casa com o meu namorado e nós fomos dormir lá pela meia noite. Depois de um tempo dormindo muito mal por que a dor não passava (mentira, ela passava... mas voltava em seguida) levantei para ver que horas eram, e descobri que já eram 3 da manhã e as dores ainda não tinham ido embora, e pra piorar não estavam me deixando dormir direito! Foi ai que eu me toquei... poxa ainda não passou, que estranho, isso não costuma acontecer! Será que chegou a hora?? Mas resolvi voltar a dormir pra descansar... porém não conseguia!! Aquela dorzinha chata q ia e vinha não me deixava pegar no sono de jeito nenhum. Resolvi acordar meu namorado: - Julio, acho que começou, quer acordar e me ajudar a contar as contrações?? A resposta dele foi: -Não, ta muito no começo, volta a dormir.
Eu tentei, juro que tentei... mas tava impossível! Não doía muito, mas doía... e eu não conseguia pegar no sono. Enfim... passei a madrugada e o dia tendo contrações, contei o tempo no começo mas depois desisti. Saí de casa no almoço, fui comprar comida com a minha mãe, voltei, arrumei a mesa com ela, tive um dia normal! As contrações eram doloridinhas mas passavam e ficava tudo bem! Eu não consegui comer muito... na verdade quase nada, não sei porque mas não deu vontade. Me forçava a comer alguma coisinha ao longo do dia mas num passava muita coisa. O tampão veio a prestações, ao longo do dia ia ao banheiro e achava pouquinho dele na minha calcinha. Lá pelas 5 da tarde as contrações deram uma apertadinha, o intervalo permaneceu de 10 a 15 minutos desde a madrugada, mas elas estavam ficando mais doloridas, agora as contrações vinham e de vez em quando vinha um enjôo junto, numa dessas vomitei um pouco. Foi ficando mais dolorido e eu resolvi entrar no banho pra dar uma aliviada, nesse ponto da trajetória o intervalo entre elas já estava diminuindo, tava em uns 7, as vezes 6 e as vezes 5 min de intervalo.. variava muito. Eu lembro da minha mãe falando: -Não tá na hora de você chamar a sua Doula não?! E eu respondia: -Não mãe, eu to ótima!!! Aí de repente vinha uma contração, e na minha cabeça eu pensava: –Bom, acho que na verdade eu devia chama-la sim.
Mas aí a contração passava e eu voltava a ser macha novamente, e resolvia esperar mais um pouco.
Eu acho que o melhor de tudo desse processo foi a minha calma. Em nenhum momento fiquei ansiosa, pois li tantos relatos de parto de mulheres que ficaram dias em trabalho de
parto, que iam pro hospital, voltavam, iam, voltavam... que eu pensava –Relaxa, isso pode demorar tanto tempo, nem se anime achando que vai ser hoje. E desse modo levei meu dia numa boa... bem tranqüila, sem esperar nada!
Só em um momento me irritei com o Julio, quando a contração vinha eu fechava os olhos e ficava mais quietinha... e ele num parava de perguntar todo tagarela e agitado: - É uma contração? O que ta acontecendo? O que ta sentindo? Tá doendo? Aí eu virei e falei : - Dá pra vc NÃO falar comigo quando eu estiver desse jeito concentrada, por favor?! É irritante!
Enfim, umas 9 da noite meu namorado
Lá pelas 10 e pouco a Kátia chegou, e aí eu já estava num estágio bem avançadinho, não conseguia mais abrir o olho direito, andava bem devagarzinho, sentia bastante dor e o pior, as dores não passavam! As vezes era até difícil identificar quando uma contração estava chegando ou não, por que eu sentia dor o tempo todo! A bendita não passava! Ahh que raiva! Não tinha descanso nenhum, tava foda! Bom, a coitada ficava atrás de mim e eu lá dando voltas na mesa que nem uma barata tonta. Ela tentou algumas coisas pra dar uma aliviada, mas nada era muito eficaz. Eu ficava pendurada nela em algumas, isso às vezes ajudava, as vezes não. Ficamos nessa por um tempo e FINALMENTE, depois de mais ou menos 1h que ela chegou em casa falou que devíamos ir para o hospital. Cara, como eu tava ansiando por esse momento! Desda hora que ela chegou eu só pensava: -gente, que horas será que eu vo pro hospital?? já tá doendo tanto!
Meu namorado pegou todas as malas, toalhas para forrar o carro e lá fomos nós. Chegando na garagem ele percebeu que esqueceu a chave do carro e voltou para pegar (minha vontade nessa hora era dar uma marretada na cabeça dele.. HELLO! To aki morrendo de dor doida pra ir pro hospital e o bonitinho ainda me esquece a chave do carro lá no 15º andar?! SE ENXERGA!!!!) enfim... mas eu fiquei lá bem quietinha só curtindo a partolândia. No carro foi um pouco tenso neh, num sei se vcs se lembram mas eu não conseguia sentar.. pois é! Foi um caminho um tanto dolorido, mas pro meu alívio e surpresa passou rápido.. mal vi já estávamos no hospital.
Assim que cheguei a Márcia já estava lá pra me receber... o Julio foi dar a entrada e a Kátia e a Márcia me levaram sei lá pra onde, num via quase nada, meu olho tava quase sempre fechado. Sei que me deitaram numa maca e me deram a grande notícia: 8cm de dilatação. Na hora eu tava tão em outro mundo que nem sabia o que isso significava direito, sei que a Kátia ficou bem feliz, me deu beijinho e tudo! Depois disso fui transferida para a sala de pré-parto. Pra minha surpresa, assim que me levantei pra me direcionar pra essa nova sala um alívio surgiu entre uma contração e outra, ebaa!! Nossa, foi outra coisa, voltei pro mundo real! Até abri o olho... fiquei com tanto pique que até dei uma corridinha até o elevador, justo eu que estava a horas andando como uma velha de 80 anos.. a Kátia até se assustou com o pique que dei. Enfim, a alegria acabou rápido, logo veio outra e outras seguidas, sem intervalo! No meio do caminho também veio uma contração e um SUPER enjôo... e eu vomitei, e dessa vez não foi pouco não, vomitei muito! Lembro que foi num corredor.
Na sala de pré-parto a Márcia me colocou no chuveiro quente e perguntou se eu queria ir pra banheira lá no Delivery. Eu disse que não, pois não estava conseguindo sentar e não pretendia ter o Gael na banheira, sempre achei tão desconfortável banheira, aquela água quente envolta de mim, sempre me senti tão claustrofobia em banheiras, achei que não curtiria meu parto na banheira. Óbvio que quando ela me perguntou eu não consegui falar tudo isso, só falei: -Não.
Mas ela me convenceu, falou que eu devia tentar, as vezes pode aliviar bastante, falou que eu podia ficar em outras posições que não fosse sentada, que eu devia tentar... qualquer coisa era só sair. Ai pensei, poxa.. é verdade, vou tentar! Logo já me transferiram pro delivery, quando abri o olho vi a banheira e já fui tirando tudo de "roupa" (acho que estava só com um avental de hospital) que tinha e entrei na BENDITA! Aí.. que delícia, gente.. aquilo foi um sonho. Eu relaxei tanto que por uns 15 minutos não senti NADA... nada nada nada, contração, dorzinha.. nada! Quase dormi... foi um alívio, foi essencial pra me reenergizar!
Bom, depois que voltei a sentir as contrações, lógico que ficavam cada vez mais fortes, pois cada minuto que passava mais perto estava a chegada do meu amorzinho. E de novo elas vieram sem descanso, sem break, sem pausa! O Julio ficou segurando a minha cabeça na banheira um bom tempo, lembro de virem com toalha fria na minha testa (ai que gostoso) lembro do Jorge chegando, lembro de algumas frases das pessoas... e o tempo todo eu ali, gemendo e sentido dores. Sei que uma hora eu já tava cansada e querendo uma solução rápida pra situação, a contração vinha e na minha cabeça vinha junto a imagem de um anjinho com uma agulha na mão (anestesia) e eu pensava : Gente... como uma anestesia ia ser MARAVILHOSA agora... com eu quero anestesia e quero parar de sentir dor.. como eu quero!!!! Tanto é que uma hora criei coragem e falei: -Foda-se, eu quero anestesia. Falei baixinho mas falei, todo mundo ouviu lógico, e a Kátia veio pertinho e falou que faltava pouco, aí eu falei: -Mas esse pouco tá demorando muito! Aí ela disse que era pra eu lembrar do parto que eu tinha tanto planejado e tudo mais. E eu falei: -Tá bom.
Fiquei sem anestesia, mas num parei de pensar nela um segundo!
Depois de sei lá quanto tempo eu disse: -Acho que veio uma vontade de faze cocô. E aí começaram a me falar pra fazer força, fazer sem medo que fazendo isso até aliviava as contrações... nossa, num precisaram fala mais nada, foi só fala que isso aliviava as contrações que eu comecei a fazer a maior força do mundo! Justo eu que pensei durante toda a minha gravidez: -Ai, vai chegar na hora do expulsivo e eu não vou fazer muita força porque não quero dilaceração, vou fazer o mínimo possível e deixar tudo acontecer naturalmente... Aquí ó (gesto de banana com os braços) na hora eu só queria que tudo acabasse o mais rápido possível e que meu filho nascesse logo!! Em algum momento eu lembro do meu namorado falando: -Mô, você num ta feliz?! Todo alegre... eu respondi meio emburrada: -Tô com muita dor pra ta feliz. Márcia falou que ia fazer um exame de toque bem superficial só pra ver onde ele tava, ela fez e falou que a cabecinha dele tava ali no canal, e me perguntou se eu queria colocar a mão pra sentir, respondi que no momento não pq tava no meio de uma contração, assim que ela passasse eu o faria. Dito e feito, coloquei a mão e senti com o meu dedo a cabecinha dele, exclamei: -Que louco! O Jorge disse: - Louco néh?
Depois de algumas contrações eles viram com um espelho a cabecinha do Gael... e sei lá, só.. num deram a entender que já ia acontecer sabe?! Depois disso veio uma contração, eu fiz força e senti um alívio e uma coisa saindo de mim.. olhei pros lados assustada e falei: -O que é que saiu de mim? (que pergunta óbvia) Ai todos olharam e em tom de comemoração falaram que a cabecinha tinha saído, que era só eu fazer mais uma forcinha que os ombrinhos iam sair, e foi nessa última contração que o Gael saiu de vez e veio ao mundo! Eu mesma tirei ele da água e coloquei no meu colo. Gente, que momento!!!!! Foi lindo, vou guardar comigo pra sempre!
Depois disso foi só alegria! Na verdade eu ainda tava sentindo bastante dor depois do parto, nada comparado com o parto, lógico... mas ainda sentia dor! (Mó decepção) Mas tomei um buscopan e ficou tudo azul, aí fiquei em paz pra curtir meu filhote! Ele nasceu as 2:00 da manhã, ele ficou mamando em mim até umas 5... eu fiquei com o parto na cabeça o dia inteiro, nem consegui dormir direito, tava uma pilha só! Que experiência, gente. Recomendo à todas!

Queria agradecer a todos que participaram do meu parto e fizeram dele um momento inesquecível!!
A Kátia, um doce de pessoa, essencial não só no momento do parto, mas também em todos os encontros que nós tivemos antes, toda atenciosa, prestativa! Muito obrigada Doulinha!
A Márcia, bendita Márcia que me convenceu de entrar na banheira, hehehe! Também muito atenciosa e carinhosa.
Ao Jorge, que me acompanhou e me fez acreditar em nossas conversas que esse tipo de parto é possível, bonito e saudável e que todas as mulheres estão aptas a realizá-lo.
E ao Douglas que cuidou do meu filhotinho assim que veio ao mundo...
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