Monica e Matheus - 16/11/11


Depois de quase três meses, resolvi escrever meu relato de parto. Espero que possa servir de fonte de inspiração para outras mulheres, para que se apoderem do seu lado mais fêmea neste mundo tão formatado.


Aliás, entre vários motivos que me levaram a encarar esse parto, um deles foi a negação de uma vida "enlatada" em que o ser humano é condicionado ao tempo do mundo, sem respeito ao seu próprio tempo... não queria que o nascimento do meu filho fosse programado, nem que o tempo de trabalho de parto fosse cronometrado como se uma tragédia fosse acontecer pq é mais demorado... também não queria ficar separada por um lençol esperando que me entregassem um bebê "c/ uma carinha ajeitada". Queria pegar ele no colo ainda quentinho de dentro de mim, sentir seu cheiro e seu corpinho meladinho... Sei que a vida acaba nos impondo outro ritmo, mas espero que a experiência desse nascimento fique registrada na memória dele, para que todas as vezes que ele precisar possa acessá-la, possa olhar pra dentro de si próprio, ter seu próprio tempo, ficar apenas consigo mesmo e retomar para as exigências da vida, ainda que nascer e renascer seja trabalhoso ...

Outro motivo, foi o medo de uma depressão pós parto. Eu havia lido que os hormônios liberados durante o parto podem ajudar a diminuir os efeitos da depressão pós-parto. Já passei, em algumas ocasiões, pela experiência da depressão e tinha horror de pensar que num momento tão especial, em que eu iria querer estar inteira pro meu filho, eu poderia estar desconectada da felicidade. Não que o começo com um bebê em casa não seja difícil, toda adaptação ao novo dói por fazer morrer o velho – é assim mesmo o nascer de uma mãe - mas essas primeiras dificuldades nem de longe se pareceram com uma depressão. O sorriso sempre esteve em meu rosto, junto com as lágrimas pela dificuldade de amamentação e a inexperiência, mas vá lá...

Começou cerca de quatro semanas antes da data prevista para o parto, um centímetro por vez a cada consulta, e, conforme ia ganhando dilatação a ansiedade ia aumentando. Meu marido estava numa fase de viagens constantes, eu estava enorme e entediada com meu tamanho e a espera. Sou do tipo suuuuper ligada na vida e a mil por hora, então dá pra imaginar como foram estas últimas semanas. Eu ficava esperando a aula de yoga da Kátia, pra conversar com outras gestantes, além de que a Kátia foi desde sempre só afeto comigo.

Foi engraçado como eu cheguei até ela. Num dos encontros da Casa Moara me encantei com seu modo doce de falar e firmeza ao mesmo tempo e tive o sentimento de que ela seria a melhor pessoa para estar ao meu lado no momento do parto. Dito e feito, lá pela 35ª semana de gestação fui conversar com ela. Estava meio em cima da hora pra escolher uma doula, mas ela carinhosamente aceitou meu convite. Obrigada Kátia, seus conselhos foram mágicos naqueles momentos...

A data prevista era 10/11, mas meu pequenino resolveu esperar até 15/11, com 41 semanas, pra começar sua trajetória rumo e este mundo. Naquela manhã, por volta das 6:00 acordei com uma pontada bem forte que parecia uma cólica menstrual, mas que logo, logo passou. Por volta das 8:00, outra e depois das 9:00 também. Era feriado, acordei meu marido e disse a ele: é hoje, o que estou sentindo é diferente de tudo que senti até agora. É hoje!

Lembrei que eu deveria reunir forças para o trabalho de parto e que dormir seria uma boa idéia, mas as cólicas e a ansiedade me faziam relutar em descansar. Consegui cochilar umas duas vezes e durante todo esse período o Arthur esteve falando algumas vezes com a Kátia ao telefone pra deixá-la a par dos acontecimentos.

Por volta das 15:00 acordei com uma cólica bem mais forte, a Kátia telefonou e disse que estava terminando um bolo junto com a filhinha dela e que logo depois iria pra nossa casa, o que não demoraria pois moramos bem perto. Ela sugeriu que eu tomasse uma ducha pra relaxar. Enquanto eu tomava a ducha ela telefonou mais uma vez e ouviu meus gemidos pelo telefone enquanto falava com o Arthur e disse: "pelo visto, agora está na hora de ir pra aí, já estou chegando".


Sua presença e experiência foram mágicas. Assim que ela chegou, eu estava saindo do chuveiro e ainda na porta do banheiro ela me cumprimentou com um abraço caloroso e cheio de coragem. Mais um tempinho e outra contração veio e eu dando chilique... Foi aí que entrou em cena a experiência da Kátia. Ela me disse: "Vc consegue sentir quando a contração vem?" Eu respondi que sim, que era como uma onda chegando. Então ela me disse: "Vc não vai mais deixar ela te pegar, vai pegar ela primeiro. Vai respirar bem fundo quando estiver chegando a contração e soltar o ar devagarinho". Foi mágico!! Parei de dar chilique naquele momento. Comi um doce de banana que meu marido preparou e até tiramos algumas últimas fotos do barrigão em casa.

O tempo foi passando. Ela ia me ajudando com a respiração e contando as contrações enquanto eu ia relaxando cada vez mais e me concentrando no meu corpo... teve massagem nas pernas, um pouco de exercício com a bola, e, às 20:00 a Kátia falou pro Arthur que poderia ainda demorar um pouco e que era bom a gente providenciar algo pra comer.

Enquanto ele ligava pra pizzaria ela sentou ao meu lado no sofá e disse: "Vc está indo bem, mas podemos passar a noite nisto, vc não quer começar a caminhar um pouco pela casa?". Comecei a dar umas voltas. Enquanto andava as contrações vinham chegando e eu respirando e me concentrando. Numa certa hora ouvi ela dizendo pro Arthur: "Olha a carinha dela, ta indo pra partolândia". Eu tinha tanto ouvido falar dessa tal de partolândia e agora tava indo direto pra lá, um espaço onde não existe o tempo, só o momento, sem linha cronológica...

Caminhar foi tudo de bom, pois, as 20:30 ela disse ao Arthur: "Agora não dá mais pra ficar em casa. Ritmo das contrações está aumentando. Está na hora de irmos pro hospital".



Dito e feito, as contrações agora me faziam querer descer ao chão e estavam bem mais próximas. Senti um quê de felicidade por estar mais perto do meu filho e lá vinha outra contração...

Entramos no carro. Era feriadão e não tinha ninguém em São Paulo. O caminho foi tranqüilo, menos quando estávamos quase chegando perto do H. São Luis, pois tem umas ruas bem esburacadas por ali. Eu pedi pra parar o carro uns metros antes do hospital pra ter uma contração daquelas e depois prosseguimos. Por aí dá pra perceber que realmente a gente sente quando a danada tá chegando e por isso dá tempo de respirar.

Chegamos ao hospital e fui caminhando até a triagem. A Dra. Marcia já estava me esperando e fez um toque. Sete centímetros e meio de dilatação! Sem brincadeira, nessa hora eu tava me achando. Eu pensava: 7 e ½ e tô de boa?! Se for assim é moleza...
Fui caminhando até a sala de parto e no caminho parei umas 3 vezes pelas contrações. Me despedi da Kátia e do Arthur, entrei sozinha na sala de parto e fique lá esperando por eles que tinham ido vestir a roupa obrigatória. Nessa hora, olhei pra um monte de aparelhos ligados e pensei: "Ferrou, vou morrer aqui. Pra que tudo isso?" Depois pensei: "Coragem Monica. Não dá pra voltar e a hora é agora. Concentre-se, concentre-se!"

Logo eles chegaram. Fiquei bem calma. O Arthur me abraçou e passou seu rosto no meu. Estava suuuper lisinho. Eu disse: "Fez a barba pra receber o Matheus é?" E ele disse: "Tb, mas foi pra fazer carinho na mãe do Matheus". Puxa mulherada, vcs podem imaginar que isso não tem preço. Na hora que vc ta mais escancarada do que nunca e sem "maquiagem" o seu homem lembrar que vc gosta de certos mimos é tuuuudo de bom...

Fui pra banheira, mas a água estava um pouco quente pra mim e não me adaptei bem por lá. Fomos pro quarto mesmo e eu fiquei de pé, me segurando no Arthur quando vinham as contrações.

Agora eu já não tava mais me achando não. Elas estavam evoluindo e eu sentia as danadas mais fortes. Numa dessas tive vontade de cravar os dentes em alguma coisa e o que vi pela frente foi o avental que o Arthur usava. Só depois vim a saber que nessa ele levou uma bela mordida. Tadinho...

A Dra. Andréa, que me acompanhou durante todo o pré-natal chegou e fez outro toque. Oito centímetros! Oito??!! Fiz a coisa mais idiota que alguém poderia fazer nessa hora. Fiz conta. Do tipo: cheguei com 7 e ½ numa boa, agora tô chilicando e ganhei só ½ centímetro??!! Fala sério!!!

A Andréa sugeriu romper a bolsa pra ajudar a descida do bebê. Eu sabia que as contrações ficariam mais doloridas após o rompimento da bolsa, mas já estávamos lá mesmo e quem tá na chuva é pra se molhar, não é mesmo?

Dito e feito, ela rompeu a bolsa e as contrações vieram com tudo. Ela também tentou descolar um pouco mais as membranas do colo do útero pra ajudar a dilatação, mas esse tipo de toque, aí sim, era insuportavelmente doloroso pra mim...

A partir desse momento eu não era mais eu, era apenas uma fêmea dando à luz sua cria. Eu estava de joelhos abraçada à cama e soltava tudo que podia pela garganta, urrava como um animal mesmo e largava o corpo durante as contrações. Acho mesmo que nem sei repetir os sons que emiti naquela sala aquela madrugada. Mas sou assim mesmo, muito intensa em tudo, então meu parto não poderia ser diferente não é mesmo?!

Já perto do expulsivo teve uma hora – aquela em que a gente chama urubu de meu loro – em que eu virei pra Andréa e falei: " Eu não sou a super mulher, pode chamar o anestesista pq eu tô cansada de sentir dor". Ela prontamente atendeu ao meu desejo, mas, quando a anestesista chegou, entre uma contração e outra, quando finalmente eu consegui sentar na cama e ficar na posição correta, a anestesista disse: "não posso aplicar a anestesia, esta moça está sem o acesso do soro". Eu tinha feito tanta força que o acesso tinha escapado da minha mão. Pensei: "Já era, não vou conseguir ficar nessa posição novamente..."

A Andréa sugeriu que eu me sentasse no banquinho de parto e que ela tentasse descolar o último centímetro de colo do útero que faltava dilatar. Put´s como isso foi dolorido. Esse último centímetro parecia 1 km a percorrer... Ela tentou umas duas vezes, mas eu não suportava esse toque, até que pensei o seguinte: "Anestesia não dá, também não agüento mais tudo isso, então vai ter que ser com a Andréa mesmo..." Aí eu disse pra ela: "Faz o que vc tem que fazer". Me concentrei e ela me ajudou. Foi um alívio, parei de sentir qualquer dor...

Não faço a menor idéia de quanto tempo durou o expulsivo, mas pude constatar por experiência própria que é possível um parto s/ anestesia. Quem sabe no meu próximo parto eu nem chego a pedir por ela... Também não foi preciso episio, apesar do Matheus ter nascido com 4.220kg, e isso foi fruto de bastante epi-no e massagens a partir da 35ª semana.

O tempo corre de um jeito diferente enquanto a gente está lá naquela sala de parto. E, se tem algo de que me lembro durante o expulsivo era o silêncio e respeito das pessoas presentes. Não tinha ninguém me apressando e dizendo faz força, faz força. Pelo contrário. As palavras eram de incentivo e quando a cabecinha do Matheus coroou, a Andréa sugeriu que eu pusesse a mão pra senti-lo. Mas não deu não. A emoção era tamanha que eu achava que se o sentisse ia me desconcentrar.

Um tempo depois saiu a metade da cabecinha e depois toda. Mais um pouquinho e saiu de uma vez só todo o seu corpinho. Dei um grito e ao mesmo tempo comecei a chorar de emoção. Peguei ele imediatamente e trouxe pra perto do meu corpo. Que delícia! Ele ali, nos meus braços, todo meladinho, quentinho, com um cheiro de cria nova que só as mães sabem explicar. Nessa hora a gente não é gente, é bicho, é instinto e prazer...

Em nenhum momento, durante todo o tempo em que eu estive por lá, passaram pela minha cabeça pensamentos negativos ou dúvidas sobre o sucesso do parto. Tive o tempo todo pessoas incríveis ao meu lado. Meu marido, que desde sempre apoiou minha opção pelo parto natural, a Dra. Andréa, esclarecendo minhas dúvidas na maior paz e transmitindo sempre confiança. A Bela, a quem pude confiar meus temores e que me ajudou muito a fazer uma última faxina mental pra receber meu bebê, e a Kátia, que me acolheu afetuosamente e ajudou na minha consciência corporal e respiração. Enfim, o trabalho de toda equipe foi maravilhoso desde o pré-natal e eu estava bastante confiante. Sou grata à vida por ter posto no meu caminho todas estas pessoas que me acolheram neste momento tão importante da minha vida.

Obrigada Deus, por confiar a mim a maravilhosa missão de ser mãe!

Obrigada Arthur, por sua presença em minha vida!

Obrigada Bela, você emite paz só pela sua presença!

Obrigada Kátia, por seu acolhimento!

Obrigada Andréa e Marcia, pela dedicação!


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