Relato de Parto: Vanessa e Gabriel

Era uma vez um casal, há cinco anos atrás, que se casou e após 8 meses apenas de casados, descobriram que seriam papais... Tudo começou assim...
Não planejamos a gravidez do Arthur, mas me lembro do quanto nos sentimos felizes por saber que havia um serzinho crescendo dentro de mim...
O médico era muito legal, mas hj sei que era cesarista total. Sinceramente, eu não tinha idéia de nada, não tinha experiência e malícia para pesquisar nada e acreditava em absolutamente tudo o que o médico dizia...
Eu entrei em trabalho de parto aos 8 meses por causa de crises renais e estava bastante assustada... Fiquei o nono mês todo tomando Inibina e Buscopan para retardar o trabalho de parto. Assim, agendamos a cesárea para o dia 19/03/2007, às 18h30. Era uma segunda-feira, eu realmente já estava muito cansada, estava muito inchada...

Para minha alegria e surpresa, na segunda-feira mesmo, por volta de meio dia, entrei em trabalho de parto. Tive perda do tampão e contrações (que hoje sei que eram bem iniciais e leves... rsrsrrs). Liguei para o médico assustada e ao invés de me dizer, puxa, então vamos esperar o processo natural da coisa, me disse: "Fique tranquila, sua cesárea será hoje mesmo!!!"
Cheguei aos 3 ou 4 de dilatação, mas fui para a mesa. Não deixaram meu marido entrar até que a cirurgia já estivesse começando. Me senti muito assustada e sozinha... O anestesista era péssimo... Senti muita tristeza pela frieza... era meu primeiro filhinho e eu queria muito alguém ali pra me abraçar. Fiquei duas horas na sala de observação, dando o meu melhor pra que minha perna voltasse a funcionar, assim eu poderia subir pro quarto e ver meu nenezinho, até que finamente pude subir.
Ao chegar no quarto eu estava com MUITA dor... Enfim...
A experiência da cesárea pra mim não foi boa. Há pessoa que se adaptam super bem, não sentem nada... mas pra mim não foi uma experiência legal... O tempo passou e eu e meu marido (Paulo), conversamos muito e decidimos ter um outro filho.
Tentamos 4 meses, com muita ansiedade, inclusive ter uma menina... Usamos todas as receitinhas que ensinam, mas quem define essas coisas é o Papai do Céu... Ele nos enviou um menino. Seu nome, Gabriel (que significa Enviado de Deus) retratou bem o que aconteceu.
Minha analista tinha me dado um livro pra ler e eu mal sabia, que esse livro mudaria tudo: "Quando o corpo Consente". Encontrei ali todas as respostas para minhas indagações do porquê eu tinha uma tristeza tão profunda quanto ao meu parto. Parece que eu queria engravidar de novo, inclusive pra ter a chance de ser a protagonista do meu parto, pra fazer diferente, pra parir de verdade, ver meu filho sair de dentro de mim. E foi assim que eu fui buscar informações, e achei o site Parto do Princípio, a Casa Moara, o blog da Kátia...
Na lista de discussões, encontrei o JV que atendia meu plano de saúde e minhas esperanças retornaram.
Bom, comecei fazer aulas de yoga com a Katia aos seis meses de gestação e esse processo foi decisivo para me preparar profundamente para o trabalho de parto.
Bom, quando estava com 39 semanas exatas, passei o dia inteiro com contrações. Se iniciaram 7h00 da manhã... Eram de 30 em 30 minutos e foram diminuindo rapidamente pra 15 minutos. Liguei pra Kátia, me disse pra tomar o banho relaxante e me enviou o programinha pra contar as contrações. Fui levando bem o dia todo, e as contrações foram ficando bem fortes e de 5 em 5 minutos. Quando foi por volta das 19h00 eu já estava com muita dor e pior, sozinha. Não quis tirar a Kátia da casa dela, meu marido do trabalho... Conversando com a Kátia e o JV por telefone, resolvemos ir pro Sta Catarina. Lá fomos nós com todas as malas... Contrações no carro, aquela loucura... Meu medo era: chegar lá e estar com pouca dilatação.
Ao me examinarem senti MUITA dor... a mão da mulher era bem pequena e ela parecia ser meio indelicada... pra piorar meu colo estava posterior, então ela tinha quase que colocar a mão até o cotovelo pra fazer o toque!! Rsrsrs (Essa era minha sensação). Veio a notícia bombástica: 1 cm de dilatação e colo grosso!
Que decepção, que vergonha que eu senti, que balde de água fria... Parecia o que? Que eu tava fingindo? Aumentando as dores? Nossa, que mulherzinha fraca essa, não? Só não fiquei tão triste, pois o cardiotoco deixou bem claro que eu estava em pleno TP, contrações fortes, reguladinhas, de 5 em 5 minutos...
Buscopan na veia e casa! Voltei pra casa com as malas, com a tristeza de saber que eu teria que passar tudo de novo. Tomei um banho bem quente de uns 40 minutos. Contrações espassaram e eu consegui dormir um pouco. Dia seguinte de contrações beeeeeem irregulares... vinham a cada hora, duas horas, às vezes 15 minutos... e assim foi o dia todo.
À 1h00 da manhã fui jogada da cama com uma contração muito forte. Fui pro banho e a coisa pegou de novo, regular, 5 em 5 minutos, fortes como as do dia anterior. Dessa vez eu queria ficar em casa, não queria ir pro Hospital. Então, pra aguentar com serenidade, dessa vez pedi ao meu marido pra ligar pra Kátia por volta de 3h da manhã.

Ela chegou, ficou comigo, fez massagem, tentou algumas coisas, mas, pra tristeza dela e do meu marido, só aliviava minha dor, eu me apoiar nela ou nele. Aff!!!
As contrações estavam de 2 em 2 minutos, às vezes voltava pra 5 minutos, mas eram bem fortes.
Ligamos para meus sogros e eles vieram ficar com o Arthur. Fomos para o Hospital. De novo meu medo: Meu Deus, me ajude pra que a dilatação esteja adiantada... Acho que deveria ter ouvido essa voz porque ao chegar, de novo, no Hospital, eu estava com 2,5 cm de dilatação!!!!!!!! QUE RAIVAAAAAA!!! Rsrsrsrs
Novamente senti vergonha, preocupação com a Kátia (duas noites sem dormir, e a filhinha dela???), medo do que eu teria de enfrentar e da dor tb, afinal, se eu ainda estava no período de latência com tanta dor, o que eu sentiria no tal período de transição?
A enfermeira era ponta firme pra fazer o toque e doeu bem menos. Ligou pro médico e tentou me acalmar: suas contrações não foram em vão. Afinaram o colo, que continua posterior.
Fomos pra sala de pré-parto. Apagamos as luzes e a Kátia me colocou pra andar. O relógio na parede marcava 5h00 da manhã. Senti muita vontade de vomitar o tempo todo e isso não me deixava comer... tomei uns suquinhos, mordi uma maçã, chupei melzinho, mas tudo de pouquinho.
Por incrível que pareça, as contrações continuaram com a mesma intensidade até o fim. Bem doloridas e eu precisava me apoiar. Troquei o ombro dos meus dois anjos da guarda (Kátia e Paulo) por uma pia que tinha lá... mas as vezes não dava tempo de chegar nela, então, eu os abraçava. Tentamos outras posições, mas nada aliviava mais. O banho foi um forte aliado...
O JV veio me ver na parte da manhã, escutou o nenê, que ficou ótimo o tempo todo, até o fim... toque de novo e apenas 4 cm de dilatação por volta de 10 ou 11h00 da manhã. Eu realmete não sei os horários...
Eu já estava a essa altura, muito cansada... não sentei um minuto, duas noites sem dormir, muitas horas de dor e ainda faltavam 6 cm?? Eu também tive que tomar os antibióticos por causa do strepto positivo, mas corria em menos de 2 minutos. Super tranquilo.

Bom, acho que por volta de 13 ou 14h00, voltou a auxiliar, novo toque e pra minha surpresa: "Vanessa, boas notícias, seu colo já ta aqui na frente, 8 cm de dilatação". Me lembro de ter chorado de emoção e alegria!! Finalmente, depois de tanto esforço, meu Gabrielzinho tava chegando. Abracei meu marido emocionada e feliz!
Ligaram pro JV que chegou no Hospital por volta de umas 16h00. Quando me examinou eu ainda estava com a mesma dilatação.
Às 19h00 ele quis me mudar pra Delivery por causa da banheira. Isso foi muito ruim pra mim. Eu já estava ambientada na sala de pré-parto... no outro quarto as luzes estavam acesas, tinha mais gente, ele me pediu pra deitar na cama pra examinar e essa era a pior posição. As contrações triplicavam cada vez que eu tinha que me deitar pra fazer o toque e eis que vem a proposta: Vanessa, to sentindo que você ta muito cansada. Ainda tem rebordo de colo, você ainda está com 9 cm de dilatação e eu ainda preciso de você para o expulsivo. Posso colocar ocitocina? Se a dor ficar muito insuportável, eu anestesio você. O que acha?
Eu não tinha condição nenhuma de escolher, de avaliar... eu estava na partolândia!! Rs. Foi a pior hora. Olhei pra Kátia, em silêncio... meu marido, em silêncio. Hoje pensando, eu era a protagonista do parto e por isso tinha que escolher, mas queria que alguém fizesse isso por mim.
Eu não tinha programado isso pra mim, mas o JV tb já tinha feito 8 partos no dia, era visível o cansaço dele também! Não respondi direito... não me lembro de ter falado eu topo! Mas a ocitocina foi parar no meu braço e eu fui pra banheira que estava sem a hidromassagem. Sentada eu não conseguia ficar... Disseram que o aparelho ficou sem bateria logo em seguida, mas eu acho que não. Vi pingar o soro e as dores quadruplicaram. Acho que tudo me desestabilizou: Mudança de quarto, a luz, parar de andar e me apoiar durante as contrações, a decisão de tomar anestesia ou não...
Nessa horas as contrações vinham e eu gritava. A sensação era de ter ficado fora do planeta terra e achei que fiquei alí por uns 15 minutos, mas foi por mais de 1 hora...
Após outro exame de toque o JV disse que fez efeito o tempo que fiquei ali, pois tinha dilatado total, apesar do bebê ainda estar um pouco alto. Fui pro banquinho pra tentar o expulsivo. Ô banquinho duro!! Definitivamente, sentada era uma posição muito ruim pra mim, mas fiquei, pois pude descansar entre as contrações, que ainda eram bem fortes. Eles me diziam pra fazer força durante as contrações, mas eu não conseguia direito... Fiquei ali por uns 40, 50 minutos...  Então veio a proposta de novo: Deixa eu te anestesiar?
Solitária e conscientemente (eu posso dizer), aceitei. Me lembro, em algum momento, de perguntar chorando à Kàtia e ao meu marido se eles achavam que eu teria fracassado se aceitasse a anestesia...
Acho que de todo o trabalho de parto, esse foi o momento mais triste pra mim, doloroso mesmo, solitário, eu diria...
É fácil hoje dizer que eu poderia ter suportado mais, afinal, tudo passou, inclusive a dor. Mas eu sei que se tratando de superar os próprios limites, eu superei os meus! No meu trabalho de parto eu realmete fui além das minhas expectativas e me orgulho, humildemente, do que consegui fazer.

Me levaram pra o centro cirúrgico ao lado e um anestesista fera me deu o que eles chamam de Bloqueio. As dores diminuíram, mas eu sentia bem no fundo cada contração que vinha. Aí sim consegui fazer toda a força a cada contração. Senti o tempo todo minhas pernas, as cócegas no pé que meu marido fazia, achando que eu não sentiria... senti o corpinho do meu filhinho nascendo, principalmente o ombro... levantei de uma maca pra outra quando foi pra ir pro quarto, levantei o bumbum sem ajuda pra colocar a cumadre quando o JV estourou a bolsa que ainda estava íntegra.
Enfim, pude viver os últimos 25 minutos de parto do meu filho com intensidade, alegria  e emoção. Vi pelo espelho a cabecinha coroando... que lindo!!
Meu filhotinho veio ao mundo às 21 horas e 30 minutos do dia 4/12/2010, com 3,245 kg, 49 cm e apgar 9/ 10. Não tive laceração!
Eu avalio meu parto como um VBAC transformador.
Quando eu nasci, meu parto também foi longo, diferente do parto dos meus irmãos. Posso hoje olhar pra mim e me ver nascida de novo. Foi um TP forte, mas muito introspectivo. Fiquei durante todo o tempo conversando comigo e com o Gabriel, pedindo pra que ele viesse, pois eu saberia cuidar dele. Me lembro de me sentir muito fracassada na hora em que aceitei a anestesia... Mas hoje, voltando às emoções vividas tenho a serenidade de saber que o fato de ter tomado anestesia não faz com que eu pense que eu arreguei, nem que sou mais fraca do que as mulheres que não tomaram. Ao contrário, participar de uma lista de mulheres decididas e guerreiras como vocês, que fazem nascer seus filhos naturalmente, e vir aqui contar a decisão de uma anestesia, precisa também ser corajosa, não é? rsrs. Não me vejo menos forte e mãe por isso.
Fui aonde nunca pensei que poderia chegar, além das minhas próprias forças... E quando fiz a última força, e senti os ombros passarem, escorregando todo o resto rapidamente pra fora, peguei meu filhinho nos braços e pensei: valeu cada esforço! Meu marido cortou o cordão quando parou de pulsar e pude amamentá-lo um pouco... Diria que foi mais um reconhecimento. Naquela mesa, além do Gabriel, nasceu uma nova mamãe e uma nova pessoa. Nasceu também um novo casal... Hoje em dia, quando meus olhos encontram os do meu marido, sempre nos lembramos do que fomos capazes de fazer juntos naquele dia!
O medo antigo de conseguir amar uma criança, já que eu amava tanto o meu primeiro filho, desapareceu... Descobri que meu coração tem capacidade para amar os dois de forma intensamente igual, mas completamente diferente. Eles não se substituem. E eu, os amo mais que tudo!! Estamos completos agora. Paulo, eu, Arthur e Gabriel. Pelos meus três homens, eu sou capaz de tudo, e sei, depois de tantas horas de TP, que sou mesmo, capaz de tudo!!!! 
Vanessa e Katia curtindo Gabriel

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