Relato de Parto: Camila Bianchi e Matteo

A epopéia dos três dias

No dia 24 de fevereiro de 2010 descobri que estava grávida. Fui a uma consulta da ginecologista com meu marido, foi a primeira vez que ele me acompanhou para tirarmos dúvidas como tentantes. A nossa gravidez foi planejada, mas eu não imaginava que, há menos de 2 meses tentando, já estaria grávida. Estava atrasada há 2 dias, porém eu achava que iria menstruar. A ginecologista fez um ultrassom no consultório mesmo e confirmou: gestação de 4 semanas!

Meu marido e eu saímos da consulta sem nem acreditarmos, fomos com um roteiro preparado de mil dúvidas sobre período fértil e exames a serem realizados, e voltamos com uma perspectiva totalmente diferente, sonhando com o bebê que já estava crescendo em meu ventre e imaginando como a nossa vida iria mudar. Iria me tornar uma mãe, que sonho incrível se tornando realidade!!!

Até eu engravidar, nunca havia me informado sobre tipos de parto ou outros assuntos sobre gestação, eu era totalmente desinformada. Tenho que confessar que eu era daquelas que dizia: “Ah, parto normal para que? Que horror, para que sofrer?! Quando eu engravidar, eu quero cesárea mesmo!” Enfim, vergonhosamente essa era a minha cabeça, assim como era a cabeça de muitas pessoas com quem eu convivia. Mas, conforme conjuguei, ERA, pois a minha vida tomou um rumo totalmente diferente e, com certeza, para muito melhor.

Havia feito uma cirurgia cardíaca em 2002, uma correção simples, mas que havia me deixado muito assustada. Meu pai, um médico cirurgião vascular é daquelas pessoas bem pragmáticas e pessimistas e, quando eu operei, vivia repetindo para mim que a doença que eu tive no coração era daquelas que “antigamente as mulheres morriam no parto, pois o coração não agüentava.”. Bom, isso me deixava mais insegura ainda para ter um parto normal, tinha medo, imaginava que meu coração não ia “agüentar” e, portanto, na minha cabeça, a cesárea era o “melhor negócio.”

Minha mãe, por outro lado, professora de dança do ventre e yoga, é uma pessoa muito zen e, assim que soube da minha gravidez, me incentivou a fazer yoga para gestantes. Após a indicação de uma amiga gestante da minha irmã, comecei a fazer yoga na casa Moara, com a Kátia Barga. Estava com 8 semanas de gestação, preenchi minha ficha e a Kátia me perguntou qual tipo de parto eu queria, eu respondi: “Tanto faz, normal ou cesárea.”. Hoje afirmo com toda certeza que a melhor coisa que me aconteceu durante minha gestação foi começar o yoga com a Kátia, ela foi um anjo em minha vida.

Minha gestação foi super tranqüila, não enjoei, engordei pouco e me sentia super bem. É bem verdade que me dediquei a ela e ao bebê, então, acho que não poderia ter sido diferente. As semanas foram se passando, eu assídua no yoga, ia recebendo cada vez mais informações durante as aulas, li livros, fui a alguns encontros, e também através da lista de emails. Aos poucos, fui percebendo como estava enganada com a imagem que fazia do parto normal e, ao mesmo tempo, fui cada vez mais ficando incomodada com algumas colocações da minha ginecologista.

Não me lembro quando isso aconteceu, mas um dia notei que não queria outra coisa que não fosse o parto normal. Sabia que queria que fosse no hospital, para eu me sentir mais segura, afinal, para quem pensava em cesárea, uma mudança para o parto domiciliar era um passo maior do que eu podia imaginar. Percebi que, ao contrário do que inicialmente acreditava, o que eu não queria era passar por outra cirurgia e que eu não tinha que ter medo de morrer no parto normal, que simplesmente eu era normal e o mais natural seria realizar um parto normal, que eu não tinha porque criar fantasmas ou mitos. Então, parti em busca do meu desejo.

Minha ginecologista tinha aparelho de ultrassom no consultório dela e, a cada consulta, ela realizava um novo exame de ultrassonografia.

Com 24 semanas comentei antes de uma aula que havia feito um ultrassom e o Matteo estava virado de ponta cabeça, mas uma aluna me disse que o Matteo ainda podia se mexer muito. E, assim foi, com 28 semanas fiz um novo ultrassom e o Matteo estava sentadinho. Com 32 semanas repetimos o ultrassom e, novamente, o Matteo sentadinho. Comecei a ficar muito preocupada, pois depois de tanta mudança e de tantas descobertas, não conseguia mais imaginar passar por uma cesárea. Dessa forma, comecei a fazer exercícios de yoga específicos, recomendados pela Kátia, para o Matteo virar. Com 34 semanas, nova consulta, novo ultrassom, novamente Matteo sentadinho. Nossa, como estava apreensiva com isso, fiquei muito preocupada, mesmo ouvindo algumas pessoas me falarem que: o bebê da fulana virou com 36 semanas, o bebê da ciclana virou com 38 semanas...Não me importava, o que eu queria mesmo era que o meu bebê já tivesse virado! Mais uma vez, a Kátia, minha fada madrinha, me deu uma dica de uma acupunturista que fazia um trabalho especifico para o bebê virar, uma outra aluna dela havia feito e teve um bom resultado.

Era uma terça-feira a noite, fui à consulta com a acupunturista. Conversamos, ela começou a sessão de acupuntura, estimulou bastante os pontos do pé, tentou ajudar levemente com as mãos na barriga a mostrar o caminho para o Matteo virar e....nada de o Matteo se manifestar! E justamente ele, que era super ativo na minha barriga, mexia muito, mas naquela noite ele não quis saber, ficou quietinho no canto dele. Sai da consulta um pouco desanimada, mas continuei com os meus exercícios de yoga.

Me lembro de ter conversado com a Kátia naquela semana e ela falou que talvez o Matteo pudesse estar precisando de mais atenção, que pudesse ser uma forma de ele manifestar que ele estava necessitando de algo. Eu realmente estava passando por umas semanas bem corridas e complicadas, pois minha mãe tinha saído de férias com minha irmã e eu tinha ficado encarregada de cuidar do nosso cachorrinho e de dar uma olhada na casa das duas. Isso estava me cansando muito, pois nosso cãozinho exigia muitas atenções e cuidados, que estavam me deixando exausta. Além disso, meu marido estava trabalhando muito e chegando tarde em casa, o que também andava me deixando um pouco chateada e carente.

Na quinta a tarde, pedi para o Pedro, meu marido, chegar mais cedo em casa. Passamos uma noite bem gostosa, jantamos juntos, fizemos o livro de assinatura da maternidade de scrap e conversamos muito com o Matteo, explicando como estávamos e que gostaríamos que ele virasse.

Sexta, pela manhã, tivemos uma nova consulta na ginecologista, eu estava completando 35 semanas. Como de costume, nova consulta, novo ultrassom e...surpresa: Matteo havia virado, estava de ponta cabeça!!! Nossa, mal acreditava, fiquei tão feliz e aliviada ao mesmo tempo, havia valido tudo a pena, que ótimo!

Continuando a consulta, fiz algumas perguntas à minha ginecologista para verificar os procedimentos dela durante o parto. Ela já sabia que eu queria parto normal, havia tirado algumas dúvidas durante a gestação, mas depois que confirmei que o Matteo havia virado e que o meu desejo era cada vez mais fácil de ser concretizado, resolvi fazer perguntas mais específicas. Com relação a anestesia, ela achou engraçado e disse que apenas uma paciente dela não havia tomado anestesia. Mas, o que foi crucial para mim, foi quando perguntei sobre episiotomia e ela me falou que era um procedimento padrão, que ela realizava em todos os partos, pois “claramente era importante evitarmos uma laceração em uma região pior, como o ânus, por exemplo.”. Depois daquela resposta foi definitivo, percebi que tinha que mudar de médico.

Conversei muito com o Pedro durante o final de semana e ele também não se sentia totalmente seguro com a nossa ginecologista com relação ao parto normal, então, ele me disse que me apoiaria na decisão que eu tomasse e eu decidi mudar. Nossa, como fiquei aflita, mudar assim com 35 semanas de gestação, será que eu era louca? Pedro ainda falou que era melhor fazermos isso agora, do que eu me arrepender depois, quando percebesse na hora que não ia conseguir o que eu queria. Sendo assim, marquei uma consulta com o Dr. Jorge Kuhn na quarta-feira seguinte, com 35 semanas e 5 dias de gestação, pois já o conhecia através da Casa Moara, e tive certeza que faria meu parto com ele.

Avisar a minha ginecologista não foi a parte mais difícil, ela era uma pessoa um pouco impessoal e não tínhamos uma ligação afetiva forte. Sabia que ela estaria fora durante aquela semana e, como não queria adiar informar a minha decisão para ela, acabei enviando um email. Ela ficou surpresa, disse que também realizava parto normal e que não entendia muito a minha decisão. Não quis entrar em detalhes, disse apenas que agradecia o pré-natal realizado com ela e que tinha imaginado um parto diferente, por isso procurei outro profissional.

Dr. JK sugeriu que eu também tivesse uma doula e o próximo passo era avisá-la, pois logicamente que eu já havia a escolhido há muito tempo: tinha que ser a Kátia, ela era uma pessoa essencial em tudo aquilo que estava acontecendo em minha vida. Falei com a Kátia na semana seguinte e ela ficou emocionadíssima, acho que ambas ficamos, mas ela tinha receio de não conseguir me atender, pois o marido dela iria viajar e ela não sabia com quem poderia deixar a filha dela. Graças aos anjinhos e a amiga da Kátia e doula, Marcelly, Kátia conseguiu confirmar que seria a minha doula, pois a Marcelly topou cuidar da filha da Kátia, caso eu entrasse em trabalho de parto quando o marido dela estivesse viajando. Meu marido e eu ficamos super felizes, nós dois queríamos muito que a Kátia nos acompanhasse no trabalho de parto, pois a gestação inteira ela já tinha praticamente acompanhado, não fazia sentido que fosse outra pessoa.

Depois disso, chamei ainda mais uma pessoa para fazer parte da equipe, a Márcia Koiffmann. Também já havia tido contato com ela através de algumas oportunidades na Casa Moara, marquei uma consulta e acabei chamando ela para ser a enfermeira obstetra (ou parteira), pois ela era outra pessoa muito especial e importante para o momento que estava por vir.

Dizem que se conselho fosse bom não dávamos, vendíamos. Entretanto, garanto que esse conselho deveria ser seguido por todas as gestantes: Nunca fale a data real da sua DPP, aumente umas 2 semanas ou mais. Eu não ouvi esse conselho e, por isso, sei muito bem como ele é importante.

Completei 38 semanas no dia 15 de outubro e, para minha surpresa, as pessoas mais inesperadas começaram a me ligar perguntando se o Matteo ainda não tinha nascido, amigos e parentes. Eu sabia que aquelas pessoas não entendiam muito de gestação e não me preocupei tanto, porém, uma delas, o meu pai, acabou me deixando muito estressada. Na verdade, eu me deixei estressar, foi uma conjunção de fatores. Estava super tranqüila e, com o passar dos dias, meu pai me ligava cada vez mais ansioso, me dizendo coisas horríveis, como que o meu bebê poderia nascer com problemas e que era perigoso, que eu tinha que tirar “essa história de parto normal da cabeça, que minha irmã havia nascido de cesárea e ela estava ótima e que, por outro lado, eu havia nascido de parto normal e tinha problemas” (???)...enfim, por mais que soubesse que nada daquilo fosse verdade, de certa forma ele conseguiu me atingir, e toda a minha calma se transformou em ansiedade. Decidi não falar mais com o meu pai até que o Matteo nascesse, e foi o que eu fiz.

No domingo, quando estava com 39 semanas e 2 dias, conversei bastante com o Matteo falando que o pai dele e eu estávamos esperando ele nascer, para ele não ter medo, que estava tudo pronto para a chegada dele.

Na madrugada seguinte, acordei por volta das 03:00 com contrações. Acordei o Pedro e avisei que achava que tinha entrado em trabalho de parto. Começamos a contar o tempo de duração e os intervalos e, uma hora depois, as 4:47 mandei uma mensagem para a Kátia, contando que estava com contrações entre 6 e 12 minutos. Ela me ligou logo em seguida, disse para eu descansar, sugeriu que eu tomasse um banho, pois era o começo, e eu devia poupar energias para quando o trabalho de parto começasse a evoluir. Eu tomei uma longa chuveirada e isso me fez relaxar, mas quem disse que eu conseguia descansar? Fora a super ansiedade, as contrações, apesar de não serem fortes, quando vinham, impediam que eu dormisse.

Pela manha, às 7:15, falei com a Kátia novamente e contei que as contrações haviam espaçado e, durante todo o dia de segunda-feira, foi assim...contrações irregulares e espaçadas, algumas duravam 20 segundos, outras chegavam a até um minuto...os intervalos às vezes eram de 15 minutos, às vezes 5, depois 30 minutos...

O Pedro não foi trabalhar e ficou comigo em casa, ficamos o dia inteiro esperando “a coisa pegar”, mas mal sabíamos o que ainda nos aguardava....

À noite, por volta das 21 horas falei com a Kátia novamente e nada havia mudado, as contrações permaneciam iguais. Fui tentar descansar, mas depois de uma hora as contrações começaram a aumentar e, às 23 horas, pedi para o Pedro ligar para a Kátia, pois já nem conseguia mais falar ao telefone. Achávamos que finalmente o trabalho de parto havia evoluído e, então, a Kátia decidiu vir para a minha casa, chegou um pouco depois da meia noite. Para a nossa surpresa, depois que a Kátia chegou, as contrações voltaram a espaçar, para o nosso desânimo também. Tentamos dormir até umas 04:30, mas eu mal conseguia descansar, já não achava posição, pois as contrações da madrugada eram mais doloridas, fora a expectativa da hora se aproximando!

Já na terça, a Kátia decidiu chamar a Márcia, que chegou na minha casa um pouco depois das 7:00. Ela me examinou, constatou que eu estava com apenas 1 cm de dilatação e me explicou que o que eu estava tendo chamava-se pródromos, ou seja, contrações de ensaio, que normalmente elas são mais freqüentes no segundo ou terceiro filho, mas que podem ocorrer no primeiro. Descubro que são contrações que não levam ao trabalho de parto em si e que podem durar alguns dias. Ela ligou para o Dr. jk, que indicou que eu fizesse um cardiotoco.

O Pedro ficou novamente comigo em casa na terça-feira. Quando a Kátia havia chegado na madrugada, ele já havia colocado todas as malas no porta malas do carro, tomado banho e se arrumado para ir a maternidade. Ele estava super ansioso e achava que o Matteo iria nascer naquele dia...Eu também estava com essa expectativa, mas a constatação de que estava apenas com 1 cm de dilatação foi como um balde de água fria. Dr. Jorge sugeriu que eu trocasse o dia pela noite, para me poupar para quando o trabalho de parto realmente iniciasse, uma vez que as contrações eram mais fortes na madrugada. Mas, mesmo durante o dia, era difícil descansar, pois, naquele momento, eu achava que as contrações já estavam fortes e me incomodavam bastante.

Marquei o cardiotoco à tarde e, como já esperávamos, estava tudo bem com o Matteo, graças a Deus! Durante o dia, ficamos de molho em casa, eu tentando ver TV e Pedro trabalhando um pouco de casa. À noite, conversei com a Kátia por telefone e ela me falou para eu pensar se tinha algo que eu queria fazer antes de o Matteo nascer que eu ainda não tinha feito, alguma insegurança, algo que poderia estar fazendo com que o Matteo demorasse mais para vir. Bom, na mesma hora me vieram a cabeça duas coisas:

Primeiro, o plano de parto que eu não havia feito. Tinha pensado mil vezes em fazê-lo, mas não tive muita vontade. Não gosto muito de planejar coisas assim, não planejei como ia ser minha cirurgia do coração, não imaginei passo a passo do meu casamento e, imaginar como seriam os detalhes do meu trabalho de parto era algo que não condizia com o meu perfil. Não gosto de criar expectativas, sabia que queria parto normal, mas não conseguia prever qual seria a melhor posição, se conseguiria ficar sem anestesia ou não, se faria lavagem intestinal. Enfim, decidi não fazer, não queria.

Segundo, era o meu pai, as palavras dele me mexeram e, no fundo, eu acabei querendo que o Matteo nascesse mais rápido, por conta do que ele me disse, para ficar mais aliviada.

Depois dessa reflexão, conversei bastante com o Pedro sobre essas coisas. Também falei sobre os meus medos de não saber cuidar do Matteo, acho que eram inseguranças normais de mãe de primeira viagem. E também falei que me sentia um pouco culpada, pensei até que eu tinha feito uma certa pressão para o Matteo nascer e, por isso, acabei sentindo essas contrações que não evoluíam.

O fato foi que acho que essa conversa e reflexão nos fizeram bem, pois entre 21 e 22 horas, comecei a sentir as contrações aumentarem e ficarem mais freqüentes. Às 2:30 liguei para a Kátia, contando que as contrações estavam entre 6 e 3 minutos e ela veio novamente para a minha casa. Acompanhamos até de manhazinha e o ritmo era basicamente esse, às vezes algumas vinham mais curtas, outras até mais longas....Às 6 horas da manhã a Márcia chegou em casa, pois a Kátia teria que passar na casa dela para ver a filha. A Márcia me examinou novamente, eu estava na super expectativa, torcendo para algo ter mudado. Na noite anterior, havia encontrado em um blog o relato de uma menina que ficou uma semana com pródromos, pensei: “Ai meu Deus, acho que não vou agüentar tanto tempo!” Bom, mas para a nossa extrema felicidade, às 07:00 a Márcia nos dá a noticia de que estou com 6 cm de dilatação com colo médio, nem acreditava, que maravilha!!!

Comi uma torrada com queijo e tomei um leite, a Márcia achou melhor já irmos para o hospital. Tudo pronto e finalmente chegou o nosso dia, o dia do Matteo nascer!!! No caminho para o hospital, cheguei a pensar se voltaria para casa...engraçado que na segunda de madrugada, quando as primeiras contrações apareceram, achei que o Matteo ia nascer naquele mesmo dia, dia 25 de outubro. Mas quando chegou quarta, dia 27/10, não imaginava que ele já fosse nascer, naquele momento parecia rápido demais.

Chegamos ao São Luiz um pouco depois das 8:00 e as 10:00 já estávamos na sala 2 da delivery do hospital, eu, Pedro, Márcia e Kátia.

Fiquei um pouco na banheira, mas depois de 3 noites sem dormir, minha resistência baixou um pouco e minha garganta estava doendo, então, sentia muito frio quando minhas costas ficavam fora da água. Almocei na banheira, mas comi pouco, achei estrogonofe um prato um pouco pesado para aquele momento. Depois, deitei um pouco na banheira, cochilei e, como achei que estava ficando muito mole, resolvi sair da água. Nesse meio tempo, Dr. JK já havia chegado, eu já estava com 8 cm de dilatação, mas minha bolsa estava integra.

Fiquei fora da banheira fazendo movimentos para aliviar a dor e, em alguns instantes, ficaram na sala de delivery só Kátia, Pedro e eu. Minhas contrações nunca chegaram a ficar muito próximas, espaçadas em 3 e 5 minutos, mas a intensidade era cada vez maior. Em um intervalo entre uma contração e outra, comecei a me sentir em outro mundo, olhava para os dois – Pedro e Kátia – e pensava onde eu estava, dizia para eles que tudo aquilo parecia um sonho, pois era realmente como eu me sentia, em outro mundo, a tão falada partoländia!

Dr. Jorge terminou outro parto na sala ao lado, que aconteceu às 14:02, voltou para falar comigo e me explicou que minha bolsa estava ainda integra e que podíamos esperar ela estourar, o que não daria para prever quando iria acontecer, ou podíamos estourá-la, que era um procedimento bem simples. Decidi estourar, estava cansada demais, há 3 noites sem dormir e não sabia quanto tempo mais agüentaria. Ao romper a bolsa, tivemos uma boa noticia: nada de mecônio! Estávamos monitorando os batimentos cardíacos do Matteo a todo instante, mas foi ótimo confirmar isso.

Depois de rompida a bolsa, o trabalho de parto finalmente passou da fase ativa para a expulsiva. Não queria voltar para a banheira, ou ficar na cama, estava cansada demais para ficar em pé e a melhor posição que encontrei foi de cócoras. O banquinho do São Luiz ajudou bastante, porém depois de um tempo comecei a sentir muita dor, pois ele era muito duro. Tirei o banquinho e o Pedro ficou me segurando por trás, coitado, quanta força ele teve que fazer! Minhas pernas começaram a tremer e então, voltei para o banquinho de cócoras.

Quando a cabeça do Matteo começou a sair, senti uma ardência muito forte, esticando o períneo e, nesse momento me lembrei que não havia pedido anestesia e, no mesmo instante, pensei que era tarde demais para pedir. Não imaginei que ia conseguir sem anestesia, fiquei surpresa comigo mesma, pois um dia antes, quando ainda estava em pródromos, cheguei até a comentar com o Pedro que já estava sentindo muita dor e cansada e que achava que não ia conseguir ter o Matteo sem anestesia, apesar de querer muito. Bom, mas quando queremos algo muito, nos surpreendemos com o resultado, ainda mais algo como o nascimento de um filho, um momento tão milagroso e prazeroso!

Acho que o expulsivo durou cerca de 1 hora e meia, fiz muita força e, em uma delas, me dei conta que meu coração estava agüentando. Sou normal, uma pessoa normal, como o meu maravilhoso cardiologista sempre me falou, finalmente comprovei isso! Agora tenho certeza que meu coração agüenta tudo, como ele é forte e como foi importante eu confiar no meu cardiologista e em mim mesma, para fazer essa mudança e buscar meu sonho de parto normal.

Minhas contrações continuaram espaçadas, mesmo durante o expulsivo. Eu estava tão cansada fisicamente que, chegou uma hora que eu cochilei ao esperar a próxima contração, ninguém na sala de parto notou, mas eu me assustei quando percebi que tinha dado essa “pescada” e percebi que tinha que fazer algo a respeito. Então, olhei para a Márcia e perguntei se não podíamos fazer algo, pois estava demorando muito para vir a próxima contração. Ela me perguntou se eu conseguia fazer força sem contração, que ela me avisava quando eu poderia fazer e resolvi tentar.

E foi assim que Matteozinho nasceu, às 16:02, extremamente saudável, chorou muito e fez dois xixis em mim, que emoção enorme. Ao pegar ele no colo, já havia me esquecido dos 3 dias de trabalho de parto e só pensava na alegria de ter ele comigo e de ter dado tudo certo, algo que eu queria demais. Depois de tantas mudanças, naquela quarta-feira chegou a passar pela minha cabeça que talvez eu não conseguisse o parto normal e, para mim, o meu parto foi um grande autoconhecimento, uma maneira incrível de eu perceber como posso me superar e como todos nós podemos conseguir algo, quando desejamos muito, como eu desejei ter o Matteo dessa maneira, como a natureza manda.

Entretanto, não posso deixar de mencionar que, sem a equipe médica que escolhi, acredito que já teria entrado em uma “desnecesárea” já no primeiro dia de pródromos, na própria segunda-feira. Como foi bom eu ter ouvido meu coração e ter tido coragem em realizar as mudanças que realizei.


Bom, não poderia deixar de dizer que a Kátia foi essencial também para eu agüentar os 3 dias de trabalho de parto, a força que ela me deu foi incrível. Márcia e Dr. JK foram também impressionantes, como me incentivaram e fizeram eu me sentir acolhida. Meu marido foi meu parceiro, meu companheiro, meu amigo, foi ótimo! E, por fim, obrigada à vida e a Deus!

Camila e Matteo Pannain Giavina-Bianchi 
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