Relato de parto: Eliane e Sayuri

RELATO DE PARTO: Eliane Ogata.
Data do nascimento da Sayuri O Broccoleti: 07/07/2010.


O sonho de engravidar...
Tudo começou há sete anos, quando despertava em mim o desejo de ser mãe...no entanto, sabíamos que o caminho a trilhar seria longo, uma vez que o meu marido tinha feito vasectomia. Procuramos especialistas na área de fertilização: reversão, FIV (fertilização in vitro) e outros métodos foram analisados, mas que frustração foi ao descobrir que o orçamento estava fora do previsto!

Então este sonho ficou adormecido até que em 2008 o desejo de ser mãe retomou com toda a força, e um anjo (minha médica Dra Lúcia) nos guiou a uma clínica que tem um projeto para a classe de baixa renda.

A concretização do sonho!
Começamos o tratamento de FIV super animados. Com uma montanha russa de coquetéis de hormônios, ia do riso ao choro num segundo! Êita hormônio danado, os meu alunos que o digam, pois descarregava todos os bichos na sala de aula...rsrsrs.

Bom, depois de muitas injeções, foram implantados três embriões e fui para casa feliz da vida, já me sentindo grávida...mas duas semanas depois fiz o teste de gravidez e deu negativo.

Depois de muitas lágrimas, me refiz e pensei: “chega de choro, vou me levantar e lutar de novo, não vou desistir!” (nessa hora o apoio de meu marido foi essencial). Conversamos com o médico e combinamos uma segunda e última tentativa.

Tudo de novo, sobe e desce na montanha russa e, bingo! Peguei o resultado numa ansiedade danada, mas quando vi o resultado positivo senti a felicidade inundar o meu coração!!!

Os preparativos...
Desde o início procurei relaxar e me preparar para chegada do bebê da forma mais tranqüila possível. Fiz yoga com a Kátia, uma graça de pessoa, com quem me identifiquei muito! Ela me preparou muito bem para o parto, que já pensava em ter normal.

A minha médica era de acordo, e tudo ia tranqüilo até que eu disse a ela que tinha conhecido a Casa de Parto e gostado muito da recepção calorosa, diferente dos hospitais do meu convênio, frio que nem uma geladeira!!! Aí ela me disse: “Sou totalmente contra, pois acho um retrocesso! Ah, e também não faço pré-natal de quem eu não realizo o parto!”

Partimos então em busca de outro médico e, através da indicação da lista de gestante “nove-luas” e muitas conversas com a Kátia, cheguei ao Dr. José Vicente com sete meses, e ele disse: “Eli, você já está bem grávida não?!” Este médico me recebeu de braços abertos, mesmo sabendo que não iria fazer o meu parto. Ele me acompanhou e combinamos o Plano B (no hospital), caso não fosse possível realizar o parto na Casa de Sapopemba.

Pré-natal tudo normal, mas no final da gravidez...fiz o tal do exame de streptococcus e deu positivo, puxa vida! Mais esta...tive uma conversa com a minha pequena:”A mamãe espera muito você nascer, mas você precisa esperar mais um pouquinho tá?”

Fiz o tratamento de alho e refiz o exame: positivo de novo...ai ai ai! Vi o meu sonho do parto humanizado desmoronando...

Novamente não desisti: mais uma semana de muito alho, mas tanto que quase perdi eles nas partes baixas! (Imagina a situação: eu ligando p/ o meu marido vir do trabalho e resgatar o alho!!! Que susto, já estava me imaginando chegando ao PS e dizendo ao médico: “Dr, eu acho que perdi uns alhos aí dentro...e não consigo achá-los, você pode me ajudar?”) Mas graças a Deus deu tudo certo, e no último tempo, já com 39 semanas, consegui negativar o resultado!!!

Então relaxei e me entreguei de verdade à espera da Sayuri: “Bebê, agora pode vir, que a mamãe está esperando!”

A chegada da Sayuri

No manhã do dia 06/07, fui à consulta na Casa de Parto, e para nossa surpresa, já havia perdido o tampão e estava com dilatação de 1,5 cm. Como eu já estava com 40 semanas, a obstetriz fez o descolamento da bolsa e nos informou que logo eu entraria em trabalho de parto (TP).

Fomos para casa super felizes e ansiosos e comentei com o meu marido: “Nossa, não senti nada até agora, será que vou perceber quando entrar em trabalho de parto?” Ah, mal sabia eu o que estava por vir...

Muito tranquila, à tarde fui fazer o que mais gosto: dirigir e passear. Comprei um girassol bem bonito para preparar o ambiente energético da minha casa.

Então às 6 horas da madrugada comecei a sentir algumas contrações bem leves e como sabia que era início, voltei a dormir.

Às 7 horas a minha bolsa estourou, e aí liguei para a minha doula, a Katia, que me orientou tomar um banho bem relaxante e tomar café, pois o dia seria longo.

Comi pouco pois não tinha vontade, e às 8 horas a Kátia chegou: “Ah, você está rindo ainda? então é porque está no início do TP!” Pensei comigo: ai ai ai, o que vem pela frente??? Ela acompanhou as minhas contrações e constatou que realmente estava bem no início. Ela foi embora e pediu que eu ligasse assim que as contrações estivessem ritmadas de 5 em 5 minutos, com duração de 1 minuto cada.

Após as 14 horas, as contrações já estavam ficando doloridas e ritmadas, aí pedi que o meu marido Bira ligasse para ela que falou: “Hum, se ela já não está mais falando no telefone é porque já está adiantado mesmo...”

Ela contou as contrações e desta vez estavam mais eficientes. Esperamos mais um pouco enquanto ela me orientava toda hora que a contração vinha a respirar fundo como treinamos nas aulas de yoga. Isto me ajudava a controlar as sensações do meu corpo, era como se eu controlasse a intensidade da contração.

Às 15:30 decidimos ir para a Casa de Parto, o Bira pegou as malas e descemos o elevador no intervalo de uma contração. Quando chegamos ao estacionamento, eu “chamei o hurgh” e coloquei o pouco que havia almoçado para fora! Me senti um pouco melhor...

No caminho, me concentrava de quatro no banco de trás e torcia para não pegarmos trânsito, e até que chegamos rápido. (segundo a Kátia, o Bira correu costurando todo mundo, e eu disse: “o Bira??? Ele não corre nunca, ele anda devagar...ah, também deu um tique nervoso nele de piscar o olho sem parar...essa eu conheço!)

Ufa, chegamos às 16:15h e graças a Deus fomos atendidos rapidamente. Estava animada pois o momento estava chegando mas...para minha surpresa só estava com dilatação de 4 cm (eu achava que já estava na reta final...).

Pensei: “Vamos lá, vamos trabalhar!” O Bira descarregou as malas e a Kátia preparou o ambiente, colocando essência e uma boa música...as contrações estavam ficando um pouco mais fortes e a cada suspiro ela fazia uma massagem, eu fechava os olhos e me concentrava na respiração. Queria testar o chuveiro (se realmente era bom como diziam), mas me falaram que era melhor eu esperar um pouco. Esperar o que? Pensei comigo, depois eu entendi que era para o TP progredir um pouco mais. Me lembro que o Bira tentava me descontrair dizendo : “Bem, dá uns pulinhos assim para ver se a bebê desce mais rápido!” Até que achava engraçado aquele jeito mimoso dele brincar.

Após umas duas horas (18:30h) estava com 6 cm e me deixaram ir para o chuveiro (que amenizou um pouco) e posteriormente para a hidro (esta sim que delícia!!!) Eu até conversava e ria nos intervalos, e a Kátia jogava água quente com canequinha para me esquentar, já que estava esfriando...

Fiquei lá algumas horas e após sair da hidro, mediram a minha dilatação (às 21h) e pensei agora já vai nascer, mas... só tinha dilatado mais um centímetro desde que chegamos! Nessa hora eu quase me desanimei quando a enfermeira me disse: “Vou pedir para você voltar para o chuveiro e ficar sentada na bola por uma hora para dilatar o resto (relaxei tanto que a banheira tinha estagnado o TP), e não saia de lá mesmo que tiver vontade”.

Minha nossa senhora!!! Como aquilo doía...e pensei: “Esta tal da fase ativa é punk mesmo!!!” Me lembro de falar para a Kátia: “Como dizem que a contração parece uma onda??? Onda coisa nenhuma, eu tô sentindo é dor mesmo!!!”

E quando ela me pedia para agachar e ficar de cócoras uns segundos? Ai ai...neste momento não controlava mais nada, nem a respiração! E quando a Kátia falava para mim respirar a relaxar só tinha vontade de mandar ela para a @$*! Eu só queria que aquilo tudo terminasse logo e perguntei a ela: a fase expulsiva dói mais que isto? Foi quando eu relaxei ao ouvir que o que estava por vir seria mais fácil.

Deitei na mesa de parto e ao medir a dilatação estava com 9 cm, e como já estava com bolsa rota de 14,5 horas, a enfermeira fez uma manobra para dilatar o resto, esta foi bem dolorida. E então ela disse: agora nasce!

Senti um misto de felicidade e ansiedade e o mais incrível: a dor havia passado. Só sentia as contrações (que pareciam ondas que vinham e voltavam!). Neste momento a parteira pedia para que eu fizesse força a cada contração... Jesus, não sei de onde tirei tanta força! Nem sei o que eu senti, só sei que 20 minutos depois, às 22:17h, a minha princesa estava em meus braços, linda e radiante, como eu sonhava, pesando 2,975g e 55 cm!

E depois? Ah, eu sentia uma felicidade imensa, e muita, mas muita sede. E enquanto levava uns pontinhos (quatro), já tomava um suquinho, acho que foi o mais gostoso da minha vida...

Lembro de tomar um banho maravilhoso, embora estivesse com muito friiiiio e em seguida jantar que nem gente grande. Para a alegria ser completa só faltou a Sayuri vir logo para mamar a primeira vez, mas tudo bem, logo ela já estava comigo e a noite caía da forma mais linda como nunca havia presenciado...

Agradecimentos!

Primeiramente ao Universo, por me permitir sentir esta alegria e o milagre da vida pulsando forte!

Ao meu marido, pelo seu apoio (mesmo sendo contra no início às minhas idéias da Casa de Parto) , companheirismo e amor dedicado até o fim, me fazendo sentir segura em todos os momentos!

Aos meus queridos amigos Silvana, Nélio, Mimi, Pedro, Elaine, Welington e minha tia Jô que tanto participaram e comemoraram comigo!

À minha querida doula Kátia, “Sem você a experiência não seria tão completa”. Me lembro de cada momento em que você me ajudou com muito carinho, generosidade e extrema percepção das minhas necessidades (até quando aquele monte de enfermeiras vinham se apresentar na troca de plantão e eu não conseguia falar e você me traduzia: “É que ela está no meio de uma contração...” Ah, também quando as enfermeiras comentavam entre elas que o bebê estava com problemas sérios na hora do parto e você me disse: “Não é com você, pode ficar tranquila, elas estão falando de outro bebê!” Você passou a ser muito especial para mim! Muito muito obrigada!!!

À toda equipe da Casa de Parto, pelo profissionalismo, sua atenção e carinho prestados a mim e minha bebê! Aquela casa é muito acolhedora!

E às graciosas meninas da Lista Nove Luas, por todos os conhecimentos compartilhados desde a gestação até agora depois de parida!
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