O Parto e a Montanha Russa

Tem gente que acha loucura sentir dor para parir.

Muitas coisas na vida são mais loucas e as pessoas fazem. E sem que haja bem estar algum em jogo.
Pense no seu parto como se fosse um passeio de montanha russa. Essa foi a melhor metafora que encontrei!
Imagine a sua gestação como uma daquelas filas enormes em dia de excursão de escola no Hopi Hari. No verão. Você ali esperando aquela fila se deslocado devagar... muito devagar. Você cansada, os pés doendo. Você vê gente com medo, apreensiva. Gente empolgada que descreve como vai ser para quem nunca andou. E você ali. Sem saber o que esperar. Você também escuta alguns: você é louca! Andar nisso aí??? Nunca!!! Você não viu aquela montanha russa lá em Ximbiquinha do Sudoeste que quebrou e matou todo mundo? E o pior foram os que ficaram mutilados pro resto da vida!
Você faz ouvido mouco e continua ali. Avançando devagarinho. Não tem pra onde ir, é tarde pra pular fora, as grades que separam a fila são altas, só dá pra seguir em frente.
Aí você vê quem está saindo, gente meio tonta, com uma expressão que você não entende, cambaleando, passando mal. E você pensa: onde é que eu fui me meter?

Quando você está chegando perto o cansaço está maior, você tem que ficar encostada quase o tempo todo. Ai, não chega nunca. Pra melhorar no finalzinho ainda tem uma baita escada pra subir na plataforma de embarque. Bem que podia ter uma escadazinha rolante aqui...

Você chega na ultima parte da fila. De repente parece que toda aquela morosidade foi embora. A fila anda muito mais rápido agora. Ou será que você é quem acha isso porque a hora de embarcar está se aproximando?

Subir as escadas exige um esforço extra. Parece que seu peso aumentou uns quinze quilos. Você não sabe se é o calor, o tempo de pé, ou se foi aquele combo gigante de hamburguer fritas e balde de refrigerante que estão pesando.

Mas você sobe, um degrau de cada vez. E o topo vai se aproximando.

É quando você avista: tem uma saída de emergência lá em cima. Saída estratégica pela esquerda. Acho que é nessa que eu vou! Mas aí você pensa. Já vim até aqui... e se for tudo o que dizem mesmo? Como é que eu vou saber?

Que o destino decida então: vou jogar uma moeda. Se der cara eu vou. Cara! Melhor de três então. Cara de novo. Ai, ai...

Continua avançando. Ah, se aquela mocinha desmilinguida embarcar, eu vou também. Se ela consegue eu também. Ela embarca.
Ok, acho que vou. a não ser é claro que chova. Se não for totalmente seguro não vou. E eu acho que estou vendo uma nuvenzinha lá longe. Se o carrinho que vier for vermelho também não! Vermelho me dá um azar! E eu não vou arriscar.

Sua vez está chegando, você já vai chegar na plataforma. Uma moça amarela bem na sua frente, sai correndo pela saída de emergência. Você se estica e consegue enxergá-la lá embaixo, na saída da lojinha... tem alguma coisa na mão, mas o olhar parece meio distante.

Eu vou! Não quero ficar imaginando como teria sido.

Chega a sua vez. O coração sobe na boca. O fôlego fica suspenso alguns instantes. Mas você respira fundo e sobe no carrinho. E pensa: ainda bem que não era um vermelho!

A viagem começa devagarinho. Tec tec tec. O carrinho vai subindo devagar. Tranquilo. Não é tudo aquilo! Que povo medroso! Dá até pra tirar a mão. Ainda bem que não desisti!

A brisa no rosto. A paisagem tão linda. Ainda bem que fui forte!

Sobe, sobe, sobe. Puxa, mas que alto... dá uma vertigem de leve...

De repente você se vê no final da subida. C******, que altura, ai, eu vou morrer. Me deixa descer, me deixa sair daqui. F***** da P*** daquela professora que yoga que disse que eu não ia me arrepender. Se estivesse aqui agora, eu matava!!!

Será que aquela doula ia fazer muita diferença segurando aqui a minha mão??? Bando de louca... ah, eu mato se eu sair viva daqui!

E a minha prima, aquela V*** que me convenceu a vir. Vai ser legal, você vai ver, você vai querer ir de novo. Ai, eu mato, eu mato. Cadê ela? Porque não está aqui? Duvido que quando ela andou foi nessa tão alta, aposto que foi na menor!!!

E vem a descida. O looping, uma subidinha, curva, mais curva, outra curva. Você já não está vendo nada direito, está meio tonta, parece meio fora de si. Tem mais gente gritando, ou será que é você mesma? Está doendo tudo, esse bate bate no carrinho vai doer ainda mais amanhã. Vai parecer que fui atropelada... Você nem sabe mais se está de ponta cabeça. Dá medo de olhar. Você espia, fecha o olho de novo. Nào quero nem ver. Não vou olhar. Se eu olhar é pior!

Vai chegando no final. O carrinho desacelera. Você está meio abobada, Grogue. Alguem ajuda a descer. Você nem vê quem é. Podia ser o Brad Pitt e você não ia nem notar. Seu cabelo está parecendo uma piaçava depois da faxina, mas você esqueceu de prendê-lo. E agora nem lembra mais que tem cabelo. Mas tem alguma coisa diferente. Algo a mais em você. Vim, vi e venci. Sou praticamente um Julio Cesar!

Suas pernas cambaleiam um pouco, mas você anda. A brisa bate e aos poucos você se recobra. Levanta a cabeça e sorri.

Era só isso? Porque tive tanto medo?

Vou pra fila de novo! Dessa vez vou tentar abrir o olho e levantar os braços!

Quem já andou de montanha russa sabe do que estou falando. Quem passou por um trabalho de parto também.

E você, já andou de montanha russa?


Katia Barga, mora em São Paulo, Brazil, é instrutora de yoga e mãe da Sarah, que nasceu em março de 2008 e Alice em abril de 2014, ambas vindas na montanha russa.

http://www.babyyoga.com.br
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